Título: SC quer repetir verão o ano inteiro
Autor: Elmar Meurer
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/10/2004, Relatório - Investimento em turismo e Hotelaria, p. 6
Bons resultados do início do ano animam o mercado a achar meios de driblar sazonalidade. U ma das maiores apostas de Santa Catarina para fazer avançar os setores do comércio e de serviços nos próximos anos está no turismo, com o qual o estado pretende assegurar novos empregos em tempos de crescimento da produtividade industrial. Profissionalizar a atividade é um processo que não acontece de uma hora para outra, mas o assunto é tratado como prioridade. E chama atenção que o discurso do setor privado e do poder público nunca esteve tão afinado na área turística. Entre os atrativos que o estado quer vender não está só o belo litoral, mas também o turismo rural, a diversidade cultural e o turismo de negócios. Embora algumas mudanças já sejam perceptíveis, por hora a temporada de verão ainda é o carro chefe da atividade em Santa Catarina.
O desempenho observado no verão passado foi um estímulo importante para capitalizar o setor, pois a temporada foi bem melhor do que as duas anteriores, quando os vizinhos argentinos haviam desaparecido do litoral catarinense. Os dados da pesquisa de demanda turística da Santa Catarina Turismo S/A (Santur) mostram que em janeiro e fevereiro estiveram no estado 2,59 milhões de turistas, deixaram no estado US$ 442,6 milhões ¿ um salto de 28% e 83% respectivamente em relação ao mesmo período do ano anterior.
E é justamente essa a principal comemoração dos diretores da Santur. "O que interessa é dinheiro. O turismo é um negócio e tem que gerar renda. Por isso nos interessam cada vez mais os turistas de melhor poder aquisitivo", diz sem rodeios o diretor de marketing da companhia, Valdir Walendowsky.
Ele atribui a melhoria no gasto médio dos visitantes ao trabalho de divulgação realizado pela companhia, que passou a focar públicos de maior renda e não se limitou a participar de feiras de turismo, mas também de outros encontros de negócio, como as exposições agropecuárias. O estado participou de mais de cem eventos em 2003 e tem como meta atingir 150 neste ano, afirma o diretor.
Para poder realizar seu trabalho, neste ano a Santur teve o orçamento mais do que duplicado para R$ 20 milhões, apesar do aperto nas contas estaduais. Com base em contatos de agências e bloqueios já realizados para a próxima temporada, a Santur estima alta de 10% no número de visitantes no próximo verão.
Mas nem só de boas temporadas de verão deve viver o turismo. E reduzir a sazonalidade da atividade é o grande desafio do setor, já que no litoral catarinense muitos hotéis de praia ainda são obriga a reduzir ao mínimo a sua estrutura de atendimento e mesmo a fechar no inverno. A alternativa que o setor vislumbra é a de trabalhar com maior intensidade o turismo de negócios, com a atração de eventos (veja abaixo). Tanto que já existem oito Convention & Visitors Bureaus espalhados pelo estado.
E a hotelaria segue investindo pesado. A ponto de haver, em alguns locais, sobreoferta de vagas. Conforme a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Santa Catarina (ABIH/SC), Santa Catarina já chegou a 220 mil leitos ¿ o que equivale a 88 mil apartamentos, em 2,2 mil hotéis, pousadas e resorts. Esses meios de hospedagem empregam diretamente 44 mil pessoas e indiretamente outras 132 mil, segundo a entidade.
O maior boom da hotelaria foi observado em Joinville. Nos últimos quatro anos a cidade saiu de 3,5 mil leitos para 5,5 mil, diz o presidente da ABIH, Edson Ziolkowski. Entre os novos hotéis recentemente inaugurados na cidade está o Bourbon, maior da cidade em número de apartamentos, com 140 unidades. É o primeiro projeto do Sul do País integrado a um shopping center e recebeu investimento de R$ 15 milhões.
Outra cidade com vários novos empreendimentos é Florianópolis. Mas Ziolkowski salienta que também no interior surgem novos meios de hospedagem e cita como exemplos cidades do oeste, como Treze Tílias, Palmitos e Chapecó.
Enquanto a infra-estrutura hoteleira evolui, o principal programa para melhorar a infra-estrutura de atendimento a turistas e garantir a sustentabilidade da atividade no longo prazo, o Prodetur Sul, ainda não decolou, apesar de estar em gestação há mais de mais de cinco anos. O projeto, que envolve também os estados do Rio Grande do Sul, do Paraná e do Mato Grosso do Sul, prevê investimentos financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Santa Catarina quer viabilizar inversão de até US$ 100 milhões, do quais 60% correspondem aos recursos do órgão internacional, 30% a contrapartida estadual e 10% a federal. Entre as prioridades listadas para o Prodetur estão projetos de abastecimento de água e saneamento nos pólos turísticos, infra-estrutura viária, recuperação de patrimônio histórico, capacitação e sistema de informações.
O estado também começa a se dar conta de que além de infra-estrutura e dos meios de hospedagem precisa criar roteiros turísticos e criar pacotes com alternativas de atividades para quem vem a Santa Catarina. As iniciativas nesse sentido ainda são pontuais, mas já representam um primeiro passo. Com isso, mais o potencial natural que o estado dispõe, a atividade pode dobrar de tamanho nos próximos anos, como quer a Santur.