Título: Casseb, um banqueiro brincalhão
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/08/2004, Política, p. A-8

O presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, era só sorrisos ontem ao apresentar o lucro trimestral da instituição, que atingiu R$ 1,4 bilhão. "Passamos o Bradesco de novo", comemorou o executivo, que três semanas antes concedera uma tumultuada entrevista no mesmo auditório para se defender de denúncias de omissão fiscal. Casseb fez questão de prestigiar dirigentes do BB que são ligados ao PT, com a exceção do diretor de Marketing do BB, Henrique Pizzolato, que teve uma passagem rápida e discreta pelo evento. Ele refutou ainda a hipótese de ter mesmo tratamento do presidente do Banco Central (BC), que foi elevado a ministro.

Ao chegar ao auditório, Casseb não resistiu a fazer referências à entrevista recente. "Estou com a voz esganiçada por causa de uma gripe, que vem daquela época", afirmou, carregando uma caixa de lenços descartáveis. "O melhor negócio do mundo, melhor ainda que ações do BB, é comprar uma participação dessa fábrica de lenços de papel, que tem por tanto tempo um cliente com um nariz do tamanho do meu".

Único integrante da diretoria colegiada sem o paletó, Casseb chamou o desempenho do BB de "gostoso", "delicioso" e "super legal". Interrompeu o desfile de adjetivos uma única vez, para distinguir com a palavra o presidente do Banco Popular do Brasil, Ivan Guimarães, que fez parte do comitê de campanha eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Guimarães é apontado como o autor da idéia de o banco dar um patrocínio de R$ 5 milhões para a dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano, que fez shows de graça para o PT. Casseb queria que o auxiliar falasse sobre a evolução do braço popular do BB, mas o microfone de Guimarães não funcionava. "Use a própria voz", brincou Casseb.

Henrique Pizzolato chegou ao auditório depois do início da cerimônia. Ele teria sido responsável pela compra, pelo BB, de R$ 70 mil em ingressos de um show da mesma dupla sertaneja, com fundos revertidos para o PT. Depois que as denúncias vieram a público, teve cortados os poderes para alocar verbas de patrocínio. Com sua inseparável gravata borboleta, Pizzolato circulou pelo fundo do auditório e evitou se juntar ao corpo de diretores, que estava reunido na primeira fileira. Deixou o local antes do fim do evento.

Quem respondeu às perguntas foi o vice-presidente de relações com os investidores, Luiz Eduardo Franco de Abreu, que dirigiu o Banco Regional de Brasília (BRB) quando Cristóvam Buarque (PT) era governador do Distrito Federal (1995-1998). Ele foi o mestre-de-cerimônias na mesa formada pela diretoria colegiada "que incluía Casseb" e indicou quem deveria fazer uso da palavra.

Após a apresentação do balanço, Casseb respondeu a poucas perguntas. Disse que não reivindica o posto de ministro, a exemplo do concedido ao presidente do BC, Henrique Meirelles, alvo de denúncias de irregularidades fiscais e cambiais. "Minha função não tem a mesma importância e responsabilidade", justificou. Quando já colocava o pé para fora do auditório, disse que compareceria ao Congresso assim que fosse definido seu convite.