Título: Métodos de avaliação de empresas
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/10/2004, Opinião, p. A-3

Reorganização empresarial poderá voltar com a retomada do crescimento. A partir de meados da década de 90, a questão da determinação do valor das empresas ganhou relevância no Brasil, com a intensificação dos processos de fusões, aquisições, privatizações e reestruturação de empresas. Todos os estudos que orientaram a formação desse conhecimento, no entanto, são baseados no ambiente econômico e na realidade empresarial dos Estados Unidos, diferentes, em muitos aspectos, do que é observado no Brasil.

O desafio da retomada do crescimento, talvez o ponto principal do debate econômico no momento, pode trazer de volta a questão da reorganização empresarial para maior eficiência na alocação de recursos, representando estímulo para uma nova onda de operações de negociação de empresas. Nesse ambiente, aspectos como a determinação do valor das empresas e as conseqüências, para os consumidores, das associações dos grupos empresariais tendem a ganhar destaque. Alguns exemplos são as operações que envolvem TAM e Varig ou AmBev e Interbrew.

O processo de avaliação de empresas tenta reunir teoria acadêmica, bom senso empresarial e experiência prática, constituindo-se em uma tentativa de combinar ciência com arte. Sejam quais forem os métodos de avaliação empregados, o resultado final constituirá apenas um indicativo para a negociação; o verdadeiro valor de uma empresa só estará finalmente determinado quando (e se) ela for negociada.

São cinco os métodos de avaliação de empresas mais utilizados hoje em dia: valor patrimonial ajustado, valor de mercado dos títulos, comparação direta, fluxos de caixa descontados (FCD) e opções reais (RO, do inglês real options). Mesmo quando empregados de forma combinada, com o objetivo de melhorar a precisão dos cálculos, todos esses métodos podem, no entanto, resultar em avaliações distorcidas. Isso porque a economia brasileira guarda diferenças importantes em relação à norte-americana, entre elas o fraco desenvolvimento do mercado de capitais, baixa disponibilidade de crédito a longo prazo e de venture capital, alta concentração de capital, dificuldades na separação efetiva entre propriedade e gestão, elevados custos de transação, insuficiência dos fluxos de informação aos investidores e interferência do Estado nos mercados.

A simples importação das metodologias pode levar a ilusões de precisão no processo de avaliação de empresas no Brasil, com modelos conceitualmente bem estruturados sendo aplicados sobre bases de informação ainda frágeis e instáveis. O resultado pode ser a geração de valores incompatíveis com a realidade econômica. Esforços futuros de pesquisa conjunta entre a área acadêmica e o setor empresarial poderiam trazer contribuições importantes nesse campo, buscando refinamento das bases de dados e dos fluxos de informação para a aplicação dos modelos referidos, bem como tentando adaptar a estrutura conceitual desses modelos à dinâmica empresarial brasileira.

kicker: Existe o risco de metodologias importadas gerarem valores incompatíveis com a realidade