Título: Brasil quer triplicar vendas à Rússia até o fim de 2006
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/10/2004, Nacional, p. A-4

Até agosto deste ano as exportações somaram US$ 1,02 bilhão. O Brasil quer triplicar as exportações destinadas à Rússia até o fim de 2006. As metas são diversificar a pauta dos itens comercializados, ampliar a participação dos produtos de valor agregado e elevar de US$ 1,5 bilhão para US$ 4,5 bilhões as receitas obtidas com os embarques. Os produtos que deverão registrar as maiores taxas de expansão no mercado russo são materiais de transporte, máquinas e equipamentos, alimentos industrializados, jóias, calçados, produtos têxteis e de higiene e beleza.

A finalidade de ampliação dos negócios é ambiciosa e exigirá um árduo trabalho por parte das empresas e do governo. De janeiro a agosto deste ano, as exportações destinadas à Rússia somaram US$ 1,024 bilhão, com alta de 8,7% sobre os US$ 942 milhões embarcados em igual período do ano passado. O crescimento ainda não tão expressivo quanto o necessário para uma ampliação robusta das exportações é em parte explicado pela queda de 38,65% dos embarques de açúcar.

Principal item do comércio bilateral, o açúcar rendeu US$ 272,3 milhões em receitas nos primeiros oito meses deste ano bem abaixo, portanto, dos US$ 443,9 milhões obtidos em igual período do ano anterior. Em compensação, aumentou a participação de itens de valor agregado tais como tratores (380%), motocompressores (174%), dentifrício (168%), café solúvel (116%) e carne bovina desossada (162%).

Esses produtos ainda possuem baixa participação no total exportado, mas as elevadas taxas a que crescem no mercado russo sinalizam maiores perspectivas de negócios. "Os russos estão descobrindo o Brasil. Em cada ação, reforçamos nossa imagem", disse o diretor da Agência de Promoção de Exportações (Apex), Alessandro Teixeira.

Os empresários e o governo elegeram a estratégia da persistência para atingir embarques de US$ 4,5 bilhões. Após os primeiros trabalhos de prospecção feitos naquele país em 2003, os exportadores mantiveram-se presentes na Rússia ao longo deste ano. A tática comercial que se mostra mais eficaz é a da divulgação da imagem do Brasil como país tropical da moda, dos produtos originários da Amazônia e de bebidas como a cachaça, café e sucos.

Sucesso com jóias e vestuário

A última ação de promoção realizada em Moscou ocorreu entre os dias 24 e 29 de setembro e rendeu US$ 11,2 milhões em pré-contratos que deverão ser concretizados em 12 meses. A promoção comercial privilegiou os setores de jóias, vestuário, calçados e cosméticos. Para o estilista Amir Slama, da grife Rosa Chá, a promoção "foi uma surpresa. Moscou é uma cidade frenética e a ânsia por consumo é grande". Slama foi, juntamente com os estilistas Alexandre Herchcovitch e Walter Rodrigues, responsável por um desfile das marcas brasileiras. A exportação para um país de hábitos e culturas diversos, disse, não assusta. A marca Rosa Chá já é comercializada em 10 países.

Os russos têm interesse também na importação de jóias. Tradicionais compradores de peças em ouro, eles se sentem atraídos por arranjos com pedras preciosas e prata. Na ação comercial de setembro, 20 empresas brasileiras apresentaram seus mostruários. "Se pudéssemos vender no varejo, teríamos vendido tudo e esse interesse nos permitiu testar o consumidor russo. As negociações com distribuidores foram encaminhadas e há empresas interessadas em representar o Brasil", disse Hécliton Santini, presidente do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM).

Calçado é outro produto em trajetória ascendente. Posicionado em um nível intermediário com qualidade superior ao similar asiático e com preço inferior aos sapatos top de linha italianos, o calçado brasileiro apresenta-se como alternativa. Neste ano, de janeiro a agosto, os fabricantes brasileiros embarcaram US$ 2,4 milhões em calçado de couro para a Rússia, 20,53% acima de igual período de 2003.

Em setembro último, dez fabricantes estiveram em Moscou para negociar representação com distribuidores. "O mercado deles é atraente porque a produção local de calçados não existe, a importação é grande num mercado em que o nível de renda da população e o PIB crescem", disse Heitor Klein, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Calçado (Abicalçado). Das dez empresas, oito fecharam acordo com distribuidores.

A estratégica com a Rússia, país com 145 milhões de habitantes, vai requerer mais que promoção comercial. As autoridades e empresários sabem que o sucesso da aproximação exigirá reciprocidade.

É esse um dos sentidos da visita que o vice-presidente José Alencar faz a Moscou. Caberá a ele e aos diplomatas que o acompanham abrir negociações nas áreas do agronegócio, gás natural, tecnologia bancária, cooperação espacial, energética, militar e científico-tecnológica. Um dos interesses dos russos é a licitação internacional do governo do Brasil para a aquisição de entre 12 e 24 aeronaves, uma operação estimada em US$ 700 milhões.