Título: PF prende mais de 60 pessoas em todo o País em megaoperação
Autor: Hugo Marques
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/08/2004, Política, p. A-8

Uma força-tarefa da Polícia Federal (PF), Banco Central (BC), Receita Federal e Ministério Público (MP), formada por 800 agentes e delegados, prendeu ontem 62 doleiros, donos de casas de câmbio e um policial federal ligado a lavagem de dinheiro. A Operação Farol da Colina cumpriu 208 mandados de busca e apreensão em sete estados. "Foi um trabalho importante que pode ter muitos desdobramentos de natureza fiscal", anunciou o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. A operação recolheu computadores, documentos, agendas e um volume de dinheiro ainda não contabilizado.

O objetivo da PF é desvendar o esquemas de lavagem de dinheiro e sonegação fiscal envolvendo remessas ilegais pelo Banestado. As prisões visam a colher depoimentos. Com as apreensões, a PF quer chegar aos verdadeiros envolvidos na lavagem de dinheiro. "É importante localizar anotações, bancos de dados, pessoas, para sabermos quem são os clientes", afirmou o diretor-geral da PF, delegado Paulo Lacerda.

A operação começou às 6 horas. No Rio, foram presos 9 doleiros e donos de casas de câmbio e visitadas 56 empresas, escritórios e residências. Em São Paulo, a PF efetuou 22 prisões e realizou 79 buscas e apreensões. Um dos presos é o famoso doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho Barcelona. Em Belo Horizonte, foram 4 prisões. O principal alvo da PF em Minas foi Governador Valadares, onde foram realizadas 11 prisões e cumpridos 32 mandados de busca e apreensão. A cidade é a que mais envia pessoas para os Estados Unidos e que mais importa dólares. Lá, a PF identificou um policial federal que estaria envolvido com o esquema de lavagem de dinheiro.

Em Manaus, foram três prisões e oito buscas e apreensões. Em Recife, a PF prendeu três doleiros e realizou buscas em oito escritórios e residências. Em João Pessoa, foram duas prisões e sete mandados de busca e apreensão. Em Belém, a PF efetuou oito prisões e fez 18 buscas e apreensões.

Até o início da noite, a PF só tinha cumprido metade dos 123 mandados de prisão. Segundo fontes da polícia, uma das casas de câmbio no Rio tinha sido esvaziada pouco antes da operação, o que revela vazamento de informação. Mas, dentro do governo federal, poucas pessoas sabiam da ação. "Nem eu sabia da existência e do alcance", disse Thomaz Bastos.

O ministro considerou a operação "um grande êxito". Ontem à noite, ele comunicaria ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o resultado final da operação. Bastos explicou que as inves-tigações dos doleiros brasileiros passaram pelos Estados Unidos. O próprio nome da Operação, Farol da Colina, é uma tradução livre do nome da empresa Beacon Hill Service Corporation. Na conta da empresa entraram várias remessas feitas por meio do Banestado, como atesta quebra de sigilo solicitada pelo Departamento de Justiça Americano. A Beacon Hill foi condenada nos EUA por intermediar remessas ilegais de divisas. A maioria dos beneficiários era doleiros brasileiros.

Segundo os investigadores, o esquema de lavagem de dinheiro via Banestado enviou ao exterior US$ 20 bilhões por contas CC5, de 1997 a 2002. Boa parte do dinheiro caiu em contas movimentadas pela Beacon Hill. São valores lavados pelo narcotráfico, corrupção, contrabando e fraudes fiscais. A operação foi autorizada pela Justiça Federal no Paraná e em Minas. Agora, a Receita poderá identificar e multar empresários que sonegaram impostos e a PF poderá identificar quem lavou dinheiro do crime organizado.