Título: Agricultura avançará com transgênicos
Autor: Ivanir José Bortot)
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/10/2004, Agribusiness, p. B-12

Governador do Mato Grosso acha que produtor deve ter acesso às novas tecnologias. O governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, disse que a liberação do plantio de produtos geneticamente modificados vai melhorar as condições de competitividade da agricultura brasileira no exterior e elevar a rentabilidade dos produtores rurais. "A agricultura vai recuperar o que perdeu. Perdemos competitividade no exterior em soja e algodão", disse Blairo Maggi, maior produtor de soja do mundo.

Os agricultores nacionais vêm tendo que arcar com um custo de US$ 50 ao hectare na soja e US$ 150 ao hectare no algodão, para competir com os produtores norte-americano em outros mercados. Mesmo o bônus adicional na comercialização da produção de soja convencional no exterior, ao contrário do que se imaginava, não ficou no País, mas com os intermediários estrangeiros.

Blairo Maggi disse que a partir da liberação do plantio e desenvolvimento de sementes geneticamente modificadas cairão os custos de produção, tornando mais competitivas as exportações. Com isso, a soja convencional receberá um preço maior.

O governador do Paraná, Roberto Requião, que esteve ontem com Maggi, disse que o Paraná tem condições estruturais para separar a soja transgênica da convencional. "Nossos cálculos apontam que 99,9% da soja que chega ao porto é pura, que encontra mercado e preços melhores no mundo inteiro. Por que vamos misturar essa soja com a transgênica e pagar royalties sobre a convencional?", disse Requião. Ele pretende que o Porto de Paranaguá exporte apenas soja convencional e sugere que o Porto de Santos seja usado para embarque de produtos geneticamente modificados. O plantio da soja transgênica no Paraná, mesmo depois da aprovação final, deverá cumprir os rituais da lei. O governo já definiu um conjunto de medidas sanitárias e técnicas que serão exigidas dos agricultores para garantir a rastreabilidade do produto, desde a origem das sementes, os cuidados com o plantio, colheita, armazenamento e comercialização.

Maggi acha que, mesmo com essa segregação, é fundamental que o setor agrícola tenha acesso à nova tecnologia pelo ganho de produtividade e de rentabilidade. A safra atual não produzirá os mesmos ganhos das últimas colheitas, pela queda dos preços internacionais e da recomposição das margens dos vendedores de insumos e máquinas.

"Toda a vez que os preços agrícolas sobem, os fornecedores recompõem suas margens. Com a queda, os custos de produção ficam elevados, o que leva o produtor a usar menos tecnologia, o que implica perda de produtividade", disse Maggi. Mesmo com a esperada margem de R$ 300 o hectare, Maggi disse que o grupo André Maggi, comandado por ele, vai plantar 140 mil hectares de soja convencional e 60 mil hectares de milho, algodão e trigo. Só depois de regulamentada a lei é que o grupo Maggi decidirá se adere à transgenia.

Embora não recorra aos organismos geneticamente modificados (OGMs), Maggi espera renda elevada, porque ele vai cultivar duas safras no ano. No verão, Maggi vai plantar soja precoce e logo após a colheita vai cultivar algodão ou milho em fevereiro. "O ganho maior é pelo volume de produção", disse o governador.

No Mato Grosso, a área de plantio será superior a 7,1 milhões de hectares. Sozinha, a soja ocupou uma área de 5,1 milhões de hectares e contribuiu com 15 milhões de toneladas de produção, a maior parte exportada. Cerca de 70% da receita do Mato Grosso vêm da exportação de produtos primários e gerar um saldo de US$ 2,5 bilhões na balança comercial do País.

Maggi quer agregar mais valor à produção agrícola, concedendo incentivos a processadoras de insumos, indústrias de máquinas, equipamentos ou de transformação de alimentos que desejam se instalar no estado. "Precisamos ousar com criatividade", disse. Ele citou como exemplo de desafio vencido o transporte de soja pelo Rio Madeira. Todas as consultorias não acreditaram nessa possibilidade. Comboios de cargas transportaram mais de 6 mil toneladas. O grupo Maggi transporta até 32 mil toneladas de soja até o porto de São Luiz (MA).