Título: Brasil terá algodão Transgênico prôprio
Autor: Adriana Thomasi
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/10/2004, Agribusiness, p. B-12

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) espera colocar no mercado, em 5 anos, a primeira variedade transgênica de algodão genuinamente brasileira, livrando a cotonicultura da praga do bicudo. "A tecnologia de cultivares geneticamente modificados não tem volta. Vai ser introduzida naturalmente, com a vantagem de minimizar custos de produção", afirma a pesquisadora Roseane Cavalcanti dos Santos, ao assinalar que os agricultores querem ver aprovada a Lei de Biossegurança. O custo médio de um hectare de algodão fica em torno de US$ 1 mil, 40% desse valor correspondem ao combate a pragas e doenças.

Conforme a especialista, a tecnologia dos organismos geneticamente modificados é só mais uma ferramenta para o agricultor. "Ninguém será obrigado a utilizar essa tecnologia. O objetivo é tornar a agricultura competitiva e sustentável", afirma a pesquisadora, que defendeu tese de doutorado sobre o algodão transgênico no final do ano passado pela Universidade de Brasília (UnB).

O estudo de Roseane está baseada na identificação e isolamento de um gene, que codifica para uma proteína com potencial inseticida e, posteriormente é introduzido em plantas de algodão para conferir resistência ao inseto. A pesquisa traz uma perspectiva animadora para o controle do inseto que ainda é feito com aplicações maciças de inseticidas químicos, onerando o sistema de produção e poluindo o meio ambiente.

Segundo a pesquisadora, a proteína é tóxica para o inseto porque ataca o colesterol de suas membranas intestinais, interferindo no crescimento e provocando a morte. "A proteína coletada de uma bactéria de plantas já se mostrou atóxica contra mamíferos, em testes conduzidos anteriormente", garante a pesquisadora da Embrapa Algodão. Os testes de biossegurança realizados com camundongos, inclusive em fêmeas em gestação, comprovaram que não há problema de modificação física, mesmo no futuro. "Analisamos rins, intestino e fígado e contatamos que nenhum tecido foi afetado", diz.

Roseane conseguiu isolar cerca de 50% do gene, com previsão para finalizar a parte restante no final deste ano. "A partir daí, serão iniciados os testes de introdução da seqüência codante do gene na planta e posteriores ensaios relativos ao potencial inseticida da nova planta melhorada sobre os insetos", adianta.

Há 20 anos, a Embrapa desenvolve pesquisas para encontrar variedade de algodão com resistência natural ao bicudo. "O que se conseguiu, até agora, foi o desenvolvimento de cultivares precoces e de rápida frutificação para escapar dos ataques do inseto, mas plantas não são resistentes", diz.

Gastos elevados

O Brasil gasta atualmente cerca de US$ 900 milhões para o controle de insetos do algodão. Cerca de 30% desse total, ou US$ 270 milhões, no combate à praga do bicudo, inseto com grande capacidade reprodutiva, com ciclo biológico, entre 12 e 17 dias. Durante um ciclo do algodoeiro, que fica entre 150 e 160 dias, o bicudo pode se reproduzir até seis vezes, de modo que, no campo, podem ser encontrados cerca de 500 mil insetos por hectare. "Os prejuízos na produção ocorrem porque o bicudo se alimenta e coloca seus ovos em botões florais novos, elevando o percentual de queda de frutos", informa.