Título: A revanche do boi sobre a soja
Autor: Lucia Kassai e Neila Baldi
Fonte: Gazeta Mercantil, 14/10/2004, Primeira Página, p. A-1

Ante baixos preços, os produtores que ainda podem abandonam o grão. O último relatório de safra do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) jogou um balde de água fria no ânimo do produtor brasileiro de soja. A perspectiva de uma supersafra americana, de 84 milhões de toneladas, aliada ao aumento dos custos de produção, deve reduzir a margem de lucro no campo. "O melhor adubo para o agricultor é o lucro. E como não tenho vocação para perder dinheiro, decidi reduzir pela metade o plantio de soja", diz Romão Flores, produtor estabelecido em Canabrava do Norte (MT).

De um lado, o custo de produção subiu 30% e, do outro, os preços caíram quase pela metade. "Vamos trabalhar para cobrir custos", diz Alberi Garaffa, de Canarana (MT). Com um custo de R$ 1,2 mil por hectare plantado, ele terá que vender a safra por um preço mínimo de R$ 25 a saca. "Abaixo disso, tenho prejuízo", afirma. Ontem, a saca de soja estava sendo negociada na região a R$ 24, muito abaixo do pico de R$ 48 registrado no início do ano. "Estamos em plena entressafra e os preços estão nesses patamares. O que devo esperar para os próximos meses?", diz. "Se pudesse, teria reduzido a área."

Os poucos que podem trocar a soja por outra cultura não pensam duas vezes. Romão Flores decidiu, há uma semana, que não plantaria 4 mil hectares de soja, mas apenas 2 mil hectares. O restante da área ele utilizará para pastagens. "É a revanche do boi sobre a soja."

Em anos anteriores, o produtor teve uma lucratividade de até 35%. Para esta safra, o quadro é outro. André Pessôa, diretor da Agroconsult, estima para 2004/05 rentabilidade inferior a 10%.