Título: Taxa de ociosidade é maior nas universidades privadas
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Gazeta Mercantil, 14/10/2004, Nacional, p. A-4

Censo revela mais vagas universitárias do que formandos do ensino médio. O Censo da Educação Superior 2003 divulgado ontem pelo Ministério da Educação (MEC) revelou um índice de ociosidade de 47,3% nas vagas abertas pelas instituições no ano passado, um aumento de quase cinco pontos percentuais em relação a 2002 (37,4%). A maioria (42,2%) das vagas ociosas se concentra no setor privado, enquanto as instituições públicas - federais, estaduais e municipais - respondem pelos restantes 5,1%. O dado foi considerado um escândalo pelo ministro da Educação, Tarso Genro.

O MEC, no entanto, não apontou as instituições em que o número de vagas oferecidas é significativamente maior do que o número de ingressos, nem se as vagas ociosas estariam relacionadas à má qualidade de ensino oferecida por algumas faculdades do ensino superior. O presidente do Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa (Inep), Eliezer Pacheco, atribuiu o número de vagas ociosas a fatores sócio-econômicos e ao excesso da oferta em determinadas áreas de conhecimento e regiões do País. "O censo demonstra deformidades o que reforça a necessidade de políticas públicas que promovam o acesso imediato ao ensino superior, sobretudo pelas camadas mais pobres da população", disse Genro.

Na opinião do professor de sociologia da Universidade de Brasília, Michelangelo Trigueiro, "a tendência, a julgar pelos dados de ociosidade, evasão e inadimplência, é a fusão de algumas instituições. A Estácio de Sá e a Unip são holdings que vão liderar esse processo de centralização".

Outras deformidades no ensino superior, segundo Genro, seriam a desigualdade na distribuição de matrículas por região favorecendo as mais desenvolvidas - como Sudeste (49%) e Sul (19%) - em detrimento das mais carentes - Norte (5,9%) e Nordeste (16%) - e a contradição observada nos números de matrículas na graduação por turno.

Pelo censo, a educação superior é majoritariamente noturna e cresce principalmente no setor privado. Ou seja, a principal oportunidade de acesso para o aluno trabalhador, ou de baixa renda, encontra-se no ensino pago. Segundo o levantamento, do total de 2,2 milhões de matrículas no ensino noturno, apenas 407 mil estão no setor público, enquanto 1,793 estão no setor privado.

A boa notícia ficou por conta do aumento do número das matrículas no ensino superior em 2003. Pelo censo, o país tinha 3.887.771 de estudantes universitários no ano passado, uma alta de 11,7% em relação a 2002. O crescimento foi maior no setor privado, de 13,3%, contra 8,1% no setor público.

E, pela primeira vez na história, o número de vagas oferecidas na educação superior foi maior que o número de alunos concluintes no ensino médio. Foram abertas, no ano passado, 2 milhões de vagas, contra 1,9 milhão de formandos do ensino médio em 2002. O crescimento foi de 12,9% em relação ao ano anterior. No setor privado, o crescimento foi de 16,5%.

O déficit foi registrado nas instituições públicas que sofreu uma redução de 4,8%, sendo de 15,4% nas estaduais e de 2,2% nas federais. A projeção do crescimento de matrículas indica que não será possível atingir a meta do MEC de matricular 40% dos alunos em instituições de ensino público até 2010. "Para que a meta possa ser atingida serão necessários investimentos significativos", segundo o MEC.

Os dados do censo ainda permitiram identificar uma predominância de mulheres nas matrículas (56,4%), mantendo uma tendência verificada desde 1995. Em números absolutos, são 2.193.763 mulheres contra 1.694.008 homens matriculados nos cursos de graduação.