Título: BNDES revê projeções para as microempresas em 2004
Autor: Guilherme Arruda e Samantha Lima
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/10/2004, Nacional, p. A-4

Vulcabrás é a primeira empresa de porte a obter verba do Progeren. O volume de operações efetuadas no âmbito do Programa de Apoio ao Fortalecimento da Capacidade de Geração de Emprego e Renda (Progeren), estimado em R$ 1,3 bilhão entre setembro e dezembro deste ano, deverá sofrer uma redução de 62%, caindo para a faixa de R$ 800 milhões. Dois motivos levam a diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a rever as projeções feitas no lançamento do programa: a grave prolongada dos bancários, notadamente, do Banco do Brasil, principal parceiro do programa.

O segundo motivo é o "spread" cobrado pelo próprio Banco do Brasil, atualmente, ao redor de 20%. "Há uma grande diferença entre o que o BNDES e o Banco do Brasil colocam de spread nos contratos. Da forma como está, a nossa taxa fica 1,4 ponto percentual menor em relação ao que o Banco do Brasil cobra", disse, ontem, em Caxias do Sul (RS), o diretor do BNDES Maurício Borges Lemos, responsável pelas áreas de operações indiretas e de administração, durante encontro com empresários na Câmara de Indústria, Comércio e Serviços. Para as micros, pequenas e médias empresas, o custo das operações indiretas tem TJLP (como custo financeiro), mais a remuneração do BNDES de 1% a.a.

A remuneração da credenciada vai até 4,5% ao ano. Escolhendo bem as palavras, Lemos deixou claro que é preciso maior sensibilidade por parte da instituição, de modo a permitir que os recursos do Progeren cheguem a um número maior de empresas em todo o país. De acordo com ele, é bem provável que haja um deslocamento dos valores do Progeren para outros programas da instituição que beneficiem empresas de porte maior.

Empresa obtém financiamento

"Para este grupo de empresas havíamos projetado R$ 1,2 bilhão em operações de crédito até dezembro, mas vamos fechar o ano com um montante próximo de R$ 2 bilhões". Lemos assinalou ainda que o total de operações de financiamento do BNDES para 2004 ficará ao redor de R$ 40 bilhões, podendo alcançar a marca de R$ 44 bilhões.

A Vulcabrás do Nordeste S.A. é a primeira empresa a obter financiamento do BNDES dentro do Progeren. Criada há pouco mais de um mês, a linha de crédito oferecerá capital de giro a empresas mediante o compromisso de ampliação do quadro de funcionários. Coligada à Grendene S.A., uma das maiores fabricantes de calçados do país, a Vulcabrás entrou com pedido de financiamento de R$ 35 milhões. Como contrapartida, se comprometeu a ampliar em 4,3% o número de postos de trabalho de sua fábrica em Horizonte, município de 33, 8 mil habitantes no interior do Ceará. A unidade terá o prazo de um ano para criar 301 empregos diretos, ampliando para 7,3 mil funcionários.

Nos 12 primeiros meses após a concessão do crédito a empresa não precisará amortizar o valor principal. Serão cobrados, no entanto, juros de 9,35% a.a. no período. Terminada a carência, a empresa terá 12 meses para quitar a dívida, acrescida de 3,5% a.a., caso comprove ter cumprido a meta de emprego. Em caso negativo, a capitalização no segundo ano será de 9% ao ano.

O BNDES informou que o Progeren dispõe de R$ 2,5 bilhões. Serão destinados R$ 1,2 bilhão para empresas de grande porte, com pedidos de financiamento superiores a R$ 10 milhões, por meio do próprio banco, e R$ 1,3 bilhão para empresas de pequeno e médio porte, com intermediação de bancos de varejo. Os projetos encaminhados por empresas de grande porte que se candidataram ao financiamento já seriam suficientes para tomar toda a verba disponível para o segmento, informa o banco.

A notícia do financiamento, no entanto, não influenciará a oferta de ações da Grendene, que tem participação superior a 10% no capital da Vulcabrás, avaliam especialistas do mercado. A empresa gaúcha estreará na Bolsa de Valores em 29 de outubro, no Novo Mercado.