Título: Dólar sobe 0,71% em dia de notícias pouco favoráveis
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Gazeta Mercantil, 14/10/2004, Finanças & Mercado, p. B-1

Bovespa, óleo e ranking de competitividade pressionam e moeda avança. Depois de duas quedas sucessivas, o dólar comercial surpreendeu ontem e fechou com alta de 0,71%, vendido a R$ 2,84. Em um dia recheado de notícias pouco favoráveis, valeu quase tudo para explicar a alta na cotação da moeda. Preço do petróleo, ranking mundial de competitividade, rebaixamento das ações de empresas de mineração pelo JP Morgan foram só alguns dos argumentos utilizados para justificar a valorização da moeda.

O dólar iniciou o dia em alta de 0,25% e atingiu o pico durante a tarde, chegando a subir 1,06% acompanhando boatos de uma explosão em um campo de petróleo no México, o que pressionou a cotação do óleo. Também teve influência sobre o mercado, segundo analistas, os rumores de que o banco norte-americano Merry Linch teria recomendado a redução de ativos de longo prazo no Brasil.

No cenário internacional, duas notícias foram ruins para o País. No ranking mundial de competitividade, o Brasil caiu três posições - para o 57 entre 2002 e 2003 - atrás de países como Costa Rica (50) e Chile (22). Também ajudou a tornar o cenário mais nebuloso, o rebaixamento da recomendação das ações de empresas mineradoras por parte do JP Morgan. A notícia causou perdas para os papéis da Vale do Rio Doce na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), contaminando as ações da CSN e da Petrobras. A queda da Bovespa também contribuiu para a alta do dólar, pois investidores estrangeiros reduziram posições em ativos do País.

"O mercado vinha muito calmo, com o real se valorizando e todos os indicadores do País, como inflação e produção industrial apresentando melhora, mas não foi o que se viu ontem", diz Hideaki Iha, analista da corretora Souza Barros. "A alta registrada foi uma surpresa e vimos um mercado com muita vontade de realizar lucros."

Analistas também citaram a pressão para elevar a Ptax, a média oficial do dólar, por ser véspera do vencimento de uma dívida cambial. "De fato, existiu alguma pressão sobre o dólar por conta do vencimento, mas já foi bem menor do que nos dias anteriores", diz Mirian Tavares, diretora da AGK. Ontem, o BC resgatou papéis no valor de R$ 1,44 bilhão, corrigidos pela Ptax de segunda, cuja alta foi de 0,24%. O resgate de hoje será bem menor, no valor de R$ 377,8 milhões, e será corrigido pela Ptax de ontem, que ficou com uma alta de 0,20%.

A tendência da moeda americana continua sendo de desvalorização. "O cenário continua favorável para captações privadas e o fluxo deve ser positivo no mês", diz Mirian. Só hoje, entram nas reservas internacionais do País US$ 1 bilhão que o governo captou no último dia 6.

Completaram o dia de notícias pouco favoráveis, o aumento de 1,87% no risco-país, para 451,69 pontos, e a desvalorização de 0,44% do C-bond, agora vendidos a 99,9% do valor de face. Os juros futuros também subiram na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). Os contratos com vencimento em abril de 2005, o mais líquido, fechou em 17,18% ao ano, contra 17,13% do fechamento de segunda-feira.