Título: A proposta russa de trocar caças por aviões brasileiros
Autor: Virgínia Silveira
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/10/2004, Transporte & Logística, p. A-10
A Rússia quer "trocar" 12 caças Sukhoi por 50 aviões comerciais da Embraer, em um acordo de US$ 1,5 bilhão que deve ser fechado em novembro, segundo reportagem do jornal russo Kommersant desta segunda-feira. O acordo teria caráter político e daria fim à longa novela envolvendo licitação para compra de 12 caças supersônicos pela Força Aérea Brasileira (FAB), em que Embraer e Sukhoi estão entre as concorrentes.
Em março passado, a também brasileira Avibras Aeroespacial, que se associou à Sukhoi para tentar vender os caças russos à FAB, disse que estava confiante numa decisão do governo baseada em fatores de custos e elementos técnicos e não só em considerações políticas. O jornal russo de ontem cita fontes do governo e do Exército russo afirmando que o ministro da Defesa Sergei Ivanov, aliado próximo do presidente Vladimir Putin, está por trás da idéia de trocar os aviões. Putin vai visitar o Brasil no próximo mês.
Os 12 caças Su-35 da Sukhoi têm valor equivalente a 50 jatos da nova família de aviões da Embraer, com capacidade para entre 70 e 110 passageiros. Os aviões da fabricante brasileira seriam usados pela companhia aérea russa Aeroflot, de acordo com o jornal.
A concorrência da FAB foi adiada por meses desde o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A licitação foi retomada na segunda metade de 2003. A Embraer está na disputa do contrato em parceria com a francesa Dassault Aviation, com uma versão especial do caça Mirage. Também participam da concorrência o modelo F-16, da norte-americana Lockheed Martin e o jato Gripen, da sueca Saab e da BAE Systems, bem como as russas Sukhoi e MiG.
Vantagem adicional
A disposição do governo russo de comprar aviões regionais da Embraer em troca do fornecimento de jatos Sukhoi-35 para a Força Aérea Brasileira (FAB) é apresentada como vantagem adicional à proposta do Consórcio Rosoboronexport na concorrência dos caças supersônicos F-X. "Essa possibilidade sempre existiu e já foi, inclusive, confirmada pelo próprio governo da Rússia há cerca de um ano e meio", disse uma fonte ligada ao processo de compra dos caças da FAB. O fato é que a empresa russa Aeroflot tem planos para adquirir 50 aviões regionais até 2010, na faixa de 65 a 110 passageiros. Entre as empresas interessadas no negócio, além da Embraer, estão as companhias russas Tupolev, o consórcio ucraniano Antonov e a canadense Bombardier.
A possibilidade de um acordo entre a Embraer e o governo russo, envolvendo a troca de jatos regionais brasileiros por caças militares russos foi descartada pela Embraer. Segundo a empresa "as informações divulgadas pelo jornal russo Kommersant, ontem, não procedem".