Título: Cafeicultor quer renegociar dívidas
Autor: Neila Baldi
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/10/2004, Agribusiness, p. B-12
Produtor quer pagar Funcafé com mercadoria, e não com dinheiro. Medida aumentará estoques. Os cafeicultores querem que o governo renegocie suas dívidas, que já haviam sido alongadas em 2001, ou que possam pagar esse débito em produto. O assunto está sendo analisado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Está em discussão empréstimos obtidos com o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) até junho de 2001. Na época, os financiamentos foram parcelados em até 12 anos ou, para o caso de crédito para estocagem, divididos em duas parcelas uma vencida e outra a vencer no final deste ano, de R$ 60 milhões.
Segundo o presidente da Comissão Nacional do Café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Roberto Pulit, a renegociação dos débitos é necessária porque desde 2001 os preços do grão estão deprimidos, insuficientes para bancar os custos de produção, estimados em algo próximo a R$ 210 a saca.
"Estamos analisando o alongamento das dívidas do Funcafé", admite o secretário de Produção e Comercialização do ministério, Linneu Costa Lima. Segundo levantamento da CNA, o débito total do setor é de R$ 3,5 bilhões, incluindo a securitização. No entanto, apenas parte do que se refere da dívida do Funcafé, de R$ 1,2 bilhão, é que será renegociada. O governo está fazendo o levantamento de quanto é o débito em discussão e quanto é a inadimplência dos cafeicultores. Lima anunciou ontem a intenção de renegociar os débitos dos produtores brasileiros, ao participar do 6º Concurso de Qualidade Cafés do Brasil, promovido pela Associação Brasileira de Cafés Especiais.
O melhor café especial do Brasil é de São Sebastião da Grama (SP). A Fazenda Recreio foi a grande premiada do concurso. O concurso foi composto de duas etapas. Na primeira, um júri nacional selecionou 179 fazendas e, na segunda, 60 propriedades foram avaliadas por técnicos internacionais. Ontem, o júri anunciou os 36 cafeicultores que terão seus lotes levados a leilão no próximo dia 18, promovido pela Alliance for Coffee Excellence. No ano passado, o vencedor do concurso obteve preços de US$ 1,3 mil por saca.
Diogo Dias Teixeira de Macedo, gerente-geral da Fazenda Recreio, diz que apesar dos problemas climáticos na atual safra, a propriedade conseguiu obter até 30% de sua produção - 5 mil sacas - com certificação de qualidade. Para os produtos que não vão a leilão, Macedo acredita conseguir prêmio de até 20% sobre o valor de mercado. Há 10 anos a fazenda produz cafés especiais.
A Alliance realiza leilões dos melhores cafés especais em El Salvado, Bolívia, Nicarágua, Honduras, Colômbia. Susie Spindler, diretora executiva da Alliance for Coffee Excellence, diz que não há como dimensionar qual é o melhor café do mundo, mas avalia que os produtores sabem que a competição aumenta o mercado dos participantes do concurso. Segundo ela, nos últimos seis concursos os prêmios pagos pela bebida brasileira aumentaram oito vezes. Até o momento, o produto mais caro foi comercializado há dois anos, a US$ 1,7 mil a saca. Segundo a Associação Brasileira de Cafés Especiais, o País produz anualmente 300 mil sacas do produto certificado.
Kentaro Maruyama, presidente da Maruyama Coffee, um dos principais compradores dos cafés premiados, diz que a cada ano os prêmios por esses produtos têm crescido. "No Japão os consumidores ainda consideram o produto do Brasil como de grande qualidade", afirma o comprador Hiroshi Nagata, diretor da Caravan Coffee.