Título: Fortalecido, Chávez definirá ações
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Fonte: Gazeta Mercantil, 18/08/2004, Internacional, p. A-16
- O presidente pode partir para um modelo centralizador e aprofundar as reformas sociais. Fortalecido por sua vitória no plebiscito de domingo, o presidente Hugo Chávez, de tendência esquerdista, agora está de olho na centralização do poder, inclusive no controle dos tribunais e da polícia. O governo "pretende aprofundar a revolução social e democrática na Venezuela", prometeu ontem o vice-presidente José Vicente Rangel, o braço direito de Chávez.
A oposição ficou desesperada depois que os eleitores decidiram no referendo, por 58% dos votos contra 42%, que Chávez deve completar seu mandato. Não vislumbrando uma possível recuperação depois da derrota, alguns políticos da oposição insistiram em uma recontagem - hipótese afastada ontem mesmo - enquanto outros sugeriram que deveriam continuar em frente.
Chávez disse em uma coletiva à imprensa, na noite de segunda-feira, que a vitória dará ao governo uma "energia catalisadora" para levar adiante suas iniciativas, como "a conclusão da transformação do judiciário" da Venezuela.
Controle sobre a mídia
O Congresso, que já é controlado por partidários de Chávez, aprovou recentemente uma medida que lhe permite afastar do cargo e nomear juízes da Suprema Corte. Um juiz do Supremo já foi afastado por supostamente falsificar seu currículo, acusação que negou.
O governo também tenta exercer o controle sobre as estações de TV e rádio, muitas das quais criticam energicamente Chávez e publicam notícias contra ele. O governo pretende apresentar ao Congresso um projeto de lei que lhe permitiria proibir a programação considerada caluniosa ou que incitar à violência, e punir os infratores.
O governo estuda também a possibilidade de unificar as forças policiais municipais e estaduais em uma força policial nacional, tirando o seu controle de prefeitos e governadores, muitos dos quais adversários de Chávez. O vice-presidente José Vicente Rangel disse ontem que o governo "aprofundará a revolução. Seremos mais audaciosos, mais eficientes, preocupados em beneficiar a maioria pobre do país".
Albis Muñoz, presidente da Federação das Câmaras do Comércio, exigiu ontem clareza no que o governo pretende fazer "e que respeite a propriedade privada".
Ao mesmo tempo, a vitória de Chávez pode atenuar o longo conflito político na Venezuela e melhorar a imagem do país diante dos mercados. O país foi beneficiado pela vitória do "chavismo" quanto à qualificação de crédito. A Standard & Poor''s reafirmou na segunda-feira a classificação "B-" para a dívida externa de longo prazo da Venezuela, o quinto maior exportador de petróleo do mundo. A Fitch Ratings também reafirmou a classificação da dívida.
Na manhã de ontem, a remuneração da dívida venezuelana caía em cinco pontos básicos para 565 em relação aos bônus do Tesouro dos EUA, segundo o índice plus de mercados emergentes da J.P. Morgan. O spread havia disparado quase 30 pontos na segunda-feira, no início das operações em Nova York, quando Chávez declarou ter ganho o plebiscito de domingo. O analista de mercados emergentes do Crédit Suisse First Boston, em Londres, Jan Dehn, disse em um relatório que "esta é uma imensa vitória política. Chávez emergirá fortalecido por esse resultado, com um forte mandato para continuar suas reformas.".