Título: Petróleo ainda longe de 1979
Autor: Klaus Kleber
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/10/2004, Opinião, p. A-3

Os US$ 40 o barril de 1979 correspondem hoje a US$ 99. Com os saltos do preço do petróleo no mercado internacional, pergunta-se com freqüência se estamos ou não em uma situação parecida com as crises do petróleo dos anos 70, particularmente a de 1979.

O preço do petróleo está na faixa de US$ 53 o barril, mas ainda estamos longe da treva. O preço do petróleo em 1979 chegou a bater em US$ 40 nos confusos meses que se seguiram à deposição do governo do xá do Irã no bojo da revolução islâmica. Tomando US$ 40 como referência e atualizando essa cotação pelo índice de preços ao consumidor dos EUA, que cresceu 150,2% em 25 anos, verifica-se que US$ 40 de dezembro de 1979 corresponderiam hoje a US$ 99. Vê-se que, apesar das recentes cabriolas do petróleo, há ainda uma grande margem até chegarmos a algo parecido com o choque de 1979.

Isso não quer dizer que os níveis atuais de preço deixem de causar estragos consideráveis. O chanceler alemão, Gerhard Schröder, declarou que há uma especulação nesse mercado que precisa ser coibida e que levará o tema ao Grupo dos Oito. O que o G-8 será capaz de fazer para colocar um cabresto nos preços, ele não esclareceu. A própria Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) parece impotente para impor qualquer controle.

As preocupações de Schröder são válidas. Este ano deveria marcar o início da recuperação da economia dos países da União Européia (UE), que, segundo projeções de abril, poderiam, em conjunto, crescer 2%, uma taxa modesta, mas um avanço significativo em relação ao ano passado, quando o PIB da UE não aumentou mais do que 0,8%. O preço do petróleo adia essa tão ansiada recuperação.

Já com relação aos EUA analistas internacionais estimavam que a sua economia apresentaria, no último trimestre, uma taxa de crescimento, anualizada, de 3,5%. Essa projeção já foi revista para baixo em razão da alta do petróleo e pode vir a ser alterada de novo. Não será surpresa que a taxa de expansão do PIB americano mal chegue a 3% no último trimestre de 2004.

Como tudo em economia, há um lado mau e um lado bom ou menos mau em qualquer situação, dependendo do observador. Se os EUA e a UE, que são nossos principais mercados, crescerem menos, isso reduz o mercado para as exportações brasileiras. O lado menos mau é que, com um certo desaquecimento da economia americana, o chairman do Federal Reserve, Alan Greenspan, não se sentirá encorajado a elevar a taxa de juros americana, atualmente em 1,75%. Para o Brasil, essa pode ser uma evolução favorável, na medida em que ajudar a conter o fluxo de capitais para fora.

kicker: A própriaOpep parece impotente para impor qualquer controle nos preços