Título: Goiás lança complexo multimodal de cargas
Autor: Sandra Nascimento
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/08/2004, transportes & logistico, p. A-21

O Brasil poderá ter uma plataforma logística multimodal, a exemplo do que já existe na França e na Itália ¿ um complexo que reúne, num mesmo local, um centro de transporte rodoviário, terminais ferroviários e aéreos, atacadistas, operadores logísticos, serviços e administração voltado para a movimentação e distribuição de mercadorias. A iniciativa é do governo de Goiás, que planeja construir a plataforma no município de Anápolis, localizado a 52 quilômetros de Goiânia.

As obras de infra-estrutura foram iniciadas no final de julho e deverão ser concluídas em quatro etapas. O total estimado para o investimento é R$ 250 milhões, dos quais o estado de Goiás vai participar com 10%. O restante deverá vir da iniciativa privada, que começa a analisar a proposta.

Entre as empresas que já demonstraram interesse está a Transporte Bertolini, especializada em carga rodoviária, com sede em Manaus. "Com a plataforma, poderemos sair de Manaus e, em 24 horas estaremos entregando em São Paulo, Belo Horizonte. Hoje isso nos leva, no mínimo, seis dias", disse o diretor-presidente da empresa, Irani Bertolini.

Ele não fala em números - "a proposta ainda está em estudo" - mas adianta que está a espera de estímulos do governo federal. "O governo goiano está entrando com incentivos fiscais e se conseguirmos isenção federal, será muito bom", disse o empresário.

A Bertolini, segundo o empresário, conta hoje com 13 filiais pelo País, uma frota de mil carretas e 40 balsas. No ano passado faturou R$ 120 milhões e a expectativa para este ano é crescer entre 20% e 25%. Opera essencialmente com transporte de carga da região amazônica ¿ em especial a Zona Franca de Manaus ¿ para a região sudeste e vice-versa.

Em busca de investidores, o secretário estadual de planejamento, José Carlos Siqueira, deu início este mês a uma série de encontros com empresários. "Já encontramos parceiros em Manaus e em Goiás", disse ele, informando que, além da Bertolini, já teriam demonstrado interesse no projeto os Correios, uma administradora local de porto seco e laboratórios farmacêuticos. Estima-se que uma central de distribuição de insumos no local poderiam movimentar R$ 3 bilhões. Empresas de logísticas, como a DHL e VarigLog também participam das negociações.

Em busca de investidores

Hoje ele estará em São Paulo, onde participa de evento no qual também é prevista a participação de representantes da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), empresa que, segundo Siqueira, também avalia a possibilidade de participar da plataforma logística.

Amanhã o secretário segue para o Rio de Janeiro, depois Belo Horizonte e, na próxima semana, Argentina e Chile. "Nós queremos ter a plataforma consolidada já no segundo semestre do próximo ano", disse o secretário.

Até agora, segundo o secretário, já foram investidos R$ 8 milhões dos R$ 25 milhões da parte que cabe ao estado no desenvolvimento do projeto. "Vamos oferecer infra-estrutura básica, pavimentação rodoviária, aeroporto, entre outros. A idéia é o estado ir saindo à medida que a iniciativa privada for entrando", disse ele.

O primeiro passo foi a criação da Plataforma Logística S.A., da qual o governo é hoje sócio majoritário. A busca agora é por investidores que queiram ter participação acionária na empresa. Num segundo momento, disse ele, quando a plataforma logística já estiver em parte construída, a idéia é encontrar interessados em construir armazéns, hotéis etc.

Siqueira não descarta a possibilidade de também utilizar o recém aprovado programa estadual de Parcerias Público-Privadas (PPPs) como uma forma de conseguir capital privado para o projeto.

A cidade de Anápolis está localizada em um entroncamento de importantes vetores logísticos (rodoviários e ferroviários) e rota principal do agronegócio do País e centro estratégico do continente sul-americano. Para a plataforma foi destinada uma área de aproximadamente 700 hectares, às margens da rodovia BR 153-060.

Centro estratégico de logística

Num raio de 400 quilômetros da plataforma encontram-se os mercados de Goiás, do Distrito Federal e do Triângulo Mineiro. A intenção é que seja consolidado o eixo Goiânia-Anápolis-Brasília e todo o Centro-Oeste como pólo de desenvolvimento e facilitando o acesso da região aos mercados do Mercosul e Países Andinos, Europa, Ásia e América do Norte.

O complexo modal deverá abrigar, mantido o projeto original do governo goiano, um centro de transportes terrestres, um pólo de serviços e administração, um terminal ferroviário de carga, um aeroporto internacional de cargas e um terminal aéreo de carga.

Aos investidores são oferecidos a possibilidade de construção e operação de armazéns de carga; a gestão dos serviços de logística da plataforma; oferta de serviços tais como abastecimento, centro de eventos, restaurantes etc; implantação de infra-estrutura; operações dos terminais de carga aérea e ferroviária, entre outros.

Como estímulo aos interessados, o governo goiano oferece o Programa de Desenvolvimento Industrial de Goiás (Produzir) e os seus seis subprogramas (Centroproduzir, Comexproduzir, Logproduzir, Microproduzir, Teleproduzir e Tecnoproduzir) que conferem incentivos para a instalação e expansão de empreendimentos; a aplicação do Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO), que concede financiamentos direcionados às atividades produtivas; e o fomento público estadual à ampliação da infra-estrutura que serve o estado.