Título: Mercosul e UE tentam sair do impasse
Autor: Gisele Teixeira e Claudia Mancini
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/10/2004, Internacional, p. A-8

Em reunião em Lisboa, blocos podem indicar novas ofertas ou manutenção das atuais. Representantes do Mercosul, inclusive o chanceler Celso Amorim, deverão apresentar hoje a interlocutores da União Européia, entre eles o Comissário de Comércio Pascal Lamy, as condições mínimas para as negociações de um acordo comercial birregional continuarem até o fim do mês. A data de 31 de outubro foi acertada como limite para o término das discussões e parece improvável de ser atingida. Para o chefe do Departamento de Comércio Exterior da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antônio Donizeti Beraldo, mesmo que não saia acordo, deve sair um memorando de entendimento.

Uma das idéias que circularam em Brasília foi a de que, se não for possível fechar um acordo, se acerte um entendimento para as ofertas de abertura feitas até agora continuarem válidas após outubro. Em suas últimas ofertas, os dois lados afirmaram que as mesmas valiam até aquela data, último dia de exercício do atual comissariado europeu.

A porta-voz de Lamy, Arancha González disse que "dividimos o pensamento do Mercosul, de que será muito difícil fechar as negociações em 31 de outubro", segundo a agência Reuters. "O que colocamos na mesa já é uma forma de ir ao encontro das demandas do Mercosul." Os dois lados afirmam que podem oferecer mais, se receberem mais.

Um dos maiores interesses da UE no acordo é em serviços e a proposta do Mercosul foi considerada insuficiente. É um eco da fala do setor privado. Pascal Kerneis, diretor de Fórum Europeu de Serviços, critica a proposta. Para ele, as principais dificuldades estão em resseguros, serviços bancários, telecomunicações e transporte marítimo. Kerneis participou do seminário "A Internacionalização dos Serviços: Estratégias para uma Inserção Efetiva na Economia Mundial", em São Paulo, organizado pelo fórum, o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), o Conselho Empresarial Brasil-EUA e a Coalizão das Indústrias de Serviços dos EUA (CSI).

Segundo ele, entre as limitações que os europeus encontram no setor de serviços no Mercosul estão em limitação da propriedade do capital de uma empresa, falta de tratamento nacional em vários segmentos e falta de transparência em requerimentos para licenciamento.Mário Marconini, diretor-executivo do Cebri, afirmou que como Lamy dá sinais de enfraquecimento para negociar o acordo, uma oportunidade para um avanço seria o Mercosul melhorar significativamente sua oferta em serviços, pois há espaço para isso. Seria uma oferta sem garantia de reciprocidade, ao menos imediata, mas que poderia levar a alguma melhora na oferta agrícola da UE. De qualquer forma, disse, "sempre achei que a União Européia tem interesse pequeno na América do Sul". A falta de um acordo mostraria disso. E, completa, os europeus estão deixando um comissário de saída do cargo negociar o acordo. Vários membros do bloco reclamaram das ofertas prometidas por Lamy ao Mercosul.