Título: Empresários criticam Brasil na OMC
Autor: Claudia Mancini
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/10/2004, Internacional, p. A-8

O presidente da Coalizão das Indústrias de Serviços dos Estados Unidos (a sigla em inglês é CSI), Robert Vastine, disse ontem que o Brasil está se unindo a outros países, como a África do Sul, para obstruir a negociação sobre o setor na Organização Mundial do Comércio. Os negociadores, disse, querem discutir temas ligados a regras, significados do Acordo Geral de Comércio e Serviços (Gats) e mostram objeção em discutir acesso a mercado.

A CSI representa uma área responsável por 30% do Produto Interno Bruto do setor privado dos EUA, e 80% dos empregos da iniciativa privada.

A oferta brasileira de liberalização, apresentada em julho, em meio à Rodada de Doha, "é muito pobre", disse Vastine. Nem oferece o que o País concordou em conceder nos acordos sobre telecomunicações e na área financeira feitos em 1997. "É inacreditável nem incluir aqueles benefícios."

Segundo Vastine, um estudo da Universidade de Michigan mostra que a abertura mundial no comércio em serviços resultaria em benefícios de US$ 1,7 trilhão. Para ele, países como os EUA já aceitaram fazer as concessões de 1997 e "não querem pagar duas vezes". E disse que a indústria americana manterá a pressão por melhores ofertas do Brasil.

Segundo ele, até agora 48, dos 147 países da OMC, fizeram ofertas de liberalização em serviços. E disse que entre as que Washington mais aguarda estão as da África do Sul, Índia, Malásia e Egito.

Para Mário Marconini, diretor-executivo do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), o acordo fechado em julho na OMC, que estabeleceu, em especial, como continuar a negociar agricultura na rodada, e que prevê cortes em subsídios e apoio domésticos nos países desenvolvidos, pode levar essas economias a pressionar o Brasil por mais abertura em serviços (a moeda de troca). Mas o Brasil pode se mostrar reticente, alegando que ainda falta definir detalhes dos cortes, completou.

Em relação à Área de Livre Comércio das Américas, Vastine mostrou-se descontente com a paralisação da negociação. Segundo a CSI, o acordo aumentaria em US$ 3,7 bilhões as exportações privadas de serviços da América do Sul. E afirmou que este é o cenário porque o Brasil quer esperar pela eleição presidencial americana, no dia 2 próximo. Segundo ele, que faz contatos freqüentes com os negociadores de seu país, a paralisação não foi provocada por Washington, que continua a discutir acordos com outros países. Para Vastine, se o Brasil de negocia serviços com a União Européia, mas não consegue avançar com os EUA na Alca, a questão deve ser ideológica, de preferência pelo bloco europeu. Há alguns dias, o chanceler Celso Amorim negou que as discussões se diferenciem por questões ideológicas.

Mark Smith, vice-presidente executivo do Conselho Empresarial Brasil-EUA, afirmou que se o Mercosul negociar um acordo pouco ambicioso com a UE, isso enfraquecerá a ambição da Alca. "E sem um acordo ambicioso, não tem acordo." O conselho, o Cebri, a CSI e o Fórum Europeu de Serviços realizaram ontem, em São Paulo, o simpósio "A Internacionalização dos Serviços: Estratégias para uma Inserção Efetiva na Economia Mundial".