Título: Portugueses desembarcam no Brasil
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Fonte: Gazeta Mercantil, 20/10/2004, Comércio & Serviço, p. A-10

O mercado de hotelaria, com destaque para o Nordeste, é o principal foco das empresas. Nos últimos anos, as praias brasileira têm sido palco de uma verdadeira invasão de investimentos portugueses. O principal alvo é o mercado de turismo, com destaque para a hotelaria. Mas essa estratégia de ocupação ainda está longe de ser uma tarefa fácil para as empresas lusitanas.

Problemas como a alta informalidade na economia, riscos cambiais, custo fiscal elevado e baixo financiamento, além da falta de segurança, limpeza e conservação das cidades, são grandes entraves para a permanência de capital estrangeiro no Brasil. Mas há empreendedores que mantêm apostas no potencial do País.

O grupo português Reta Atlântico, especializado em investimentos imobiliários, é um exemplo dessa disposição de investir. Segundo Pedro Dias, diretor executivo do grupo, para construir um resort no País foram gastos cinco anos de negociação, desde a aquisição de uma área de 132 hectares, na reserva de Imbassaí, a 65 km de Salvador (BA), até o início das obras, no mês passado.

O projeto, orçado em cerca de ¿ 55 milhões, foi dividido em três fases de construção e sofreu diversas adaptações, principalmente em virtude das normas de proteção ambiental, até conseguir, neste ano, a licença para sair do papel.

A complexidade do resort explica essa dificuldade. Em sua primeira fase, estão projetados a construção de um hotel resort de categoria 4 estrelas, com 253 quartos; um condomínio residencial; um clube para atividades desportivas; um clube de praia; e um centro de atividades náuticas.

Para garantir a sustentabilidade e o desenvolvimento da região onde está localizado, foi projetada a construção de um pólo de entretenimento, cultura e comércio. O objetivo do pólo é "promover a integração entre moradores, turistas e habitantes locais".

Numa segunda fase, estão previstas a construção de um hotel resort no conceito de all-inclusive (todas as despesas incluídas), com 338 apartamentos, além da continuação do condomínio residencial e de um centro de pesca. O empreendimento entrará na reta final com um hotel de 259 unidades, a conclusão do condomínio, um centro eqüestre, trilhas ecológicas e postos de observação de pássaros.

"A expectativa é que o empreendimento esteja concluído num prazo de seis anos", afirma Dias, ressaltando que o projeto será desenvolvido com 50% de recursos próprios e o restante com um financiamento que ainda será fechado com o Banco do Nordeste.

Ao todo estima-se que o resort criará mais de 600 empregos durante a construção e outros 1.300 quando em funcionamento. Não se sabe ainda, no entanto, sob qual bandeira o empreendimento vai operar. "Estamos em negociação e nos próximos meses devemos divulgar o nome da operadora", afirma Dias.

Dorisol

Outro grupo português que escolheu o Brasil para expandir seus negócios é a rede de hotéis Dorisol. Originário da ilha da Madeira, o grupo atua há cerca de 35 anos no mercado de turismo.

O administrador presidente, Antonio Jardim, explica que foram muitas as dificuldades da empresa para entrar no Brasil. O plano original, por exemplo, teve que ser adaptado para a nova realidade. "Esperávamos inaugurar, ainda este ano, duas unidades hoteleiras de alto luxo, sob a bandeira Dorisol Grand Hotel, em Recife e Fortaleza."

Entretanto, com as dificuldades de financiamento, o grupo conseguiu terminar este ano apenas a unidade de Recife. Somente no segundo semestre de 2005 é que deverá ser inaugurado o hotel de Fortaleza.

"Passamos por um período de aprendizagem e descobrimos que quem quiser investir no Brasil tem que levar em conta diversas variáveis. Uma das mais relevantes é a dificuldade de captação de recursos dentro do prazo estipulado."

Segundo Jardim, os projetos foram orçados com 50% de investimento próprio e 50% de captação interna: "Mas é melhor que quem venha investir tenha um orçamento próprio para o projeto", diz ele. A empresa passou nove meses captando dinheiro no mercado interno.

Nesse processo, diversas opções de financiamento foram descartadas: "Pensamos em fundos imobiliários, em captação nos bancos privados e também no BNDES". Mas após muita pesquisa, a solução encontrada foi um financiamento pelo Banco do Nordeste, que possui, segundo Jardim, um programa adequado para o setor hoteleiro.

Jardim explica que num primeiro momento o Brasil é realmente o local ideal para a abertura de novos negócios. Entretanto, a realidade é mais dura do que as empresas esperam. Além do financiamento, são problemas como o risco cambial, o risco País, os custos elevados e a complexidade fiscal, as contas de serviços públicos e a lenta comercialização do mercado interno.

O Dorisol teve dificuldade até na legalização dos executivos do primeiro escalão que viriam trabalhar no País. "Foram necessários seis meses para a autorização dos vistos", explica Jardim.

"No final, sabemos que as vantagens compensam o risco. Acreditamos na estabilidade política e no crescimento da economia do Brasil e também em nossa capacidade e experiência de gerir operações hoteleiras", conclui.

Pestana

A rede hoteleira Pestana é a prova de que a aposta no Brasil não é um tiro no escuro. De acordo com Francisco Lopes, diretor presidente para as operações do Brasil e Argentina, nos cinco anos de operações do Pestana na região foram investidos R$ 200 milhões em seis operações hoteleiras.

"Começamos em 1999, com a compra de um antigo hotel no Rio de Janeiro, com investimentos de R$ 40 milhões", diz Lopes. "Após esta operação vieram os hotéis de Natal, Salvador, São Paulo, Angra dos Reis e, mais recentemente, Curitiba." A rede inaugurou também uma unidade em Buenos Aires, na Argentina.

"Os hotéis tem operado bem, já atingimos a dimensão mínima para termos rentabilidade e agora nossa meta é continuar crescendo", diz Lopes. Segundo ele, este ano, os hotéis da rede no Brasil vão fechar com média de 68% de ocupação.

Mas nem tudo é otimismo. O executivo ressalta que o custo financeiro do País é um grande limitador para novos investimentos. "Os encargos do Brasil chegam a ser duas vezes superiores que os de Portugal", afirma.

As dificuldades, porém, não impediram que a rede continuasse a acreditar no País. Prova disso é um investimento de R$ 20 milhões que o grupo esta fazendo para o lançamento do produto hoteleiro Pousadas de Portugal.

O novo conceito ainda não ganhou um nome para a versão brasileira, e consiste na recuperação de prédios do patrimônio histórico para a construção de pequenas unidades hoteleiras, com até 20 quartos. O primeiro empreendimento do gênero no Brasil é o Convento do Carmo, na Bahia, cuja restauração ficará pronta no final de 2005.

Outro grupo português que aposta no Brasil é o Vila Galé. Com dois hotéis em funcionamento pleno, o Vila Galé Fortaleza, localizado na praia do Futuro e o Vila Galé Salvador, no bairro de Ondina, o grupo já trabalha em seu novo projeto no Brasil: o Vila Galé Mares. Serão 454 apartamentos, na praia de Guarajuba, litoral norte de Salvador (BA). O empreendimento tem a inauguração prevista para abril de 2006.

O presidente do conselho de administração do grupo, Jorge Rebelo de Almeida, que participou VIII Seminário Internacional de Investimentos em Hotéis e Resorts, encerrado ontem, em São Paulo, confirmou também mais um hotel na região de Cumbuco (CE). O hotel completa uma série de investimentos no Brasil, no total de ¿ 30 milhões.