Título: Em dia de cautela, dólar sobe 0,73% e fecha em R$ 2,879
Autor: Jiane Carvalho e Silvia Araújo
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/10/2004, Finanças & Mercado, p. B-1

Juros futuros indicam uma alta da Selic entre 0,25 e 0,5 ponto percentual. O primeiro dia da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) foi pautado por rumores em torno da permanência do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, no comando da instituição. Os comentários ganharam força na segunda metade do dia, perto do fechamento dos principais setores financeiros, e foram suficientes para aumentar o conservadorismo dos investidores.

O dólar comercial iniciou os negócios em alta, por conta de expectativa de saída de recursos para pagamento de compromissos no exterior (atribuídos a uma empresa de telefonia). A moeda norte-americana fechou com valorização de 0,73%, vendida a R$ 2,879. O valor máximo do dia foi de R$ 2,884. Nas mesas de operações, ganhava força o boato de que o presidente do BC deixaria o cargo logo após a conclusão da reunião do Copom, que termina hoje, por motivos pessoais. A autoridade monetária disse que "não se pronuncia sobre rumores".

"A boataria de ontem sobre uma saída de Meirelles do BC e também um movimento de compra de títulos do Tesouro Americano deixou o mercado nervoso", diz Flavio Farah, do banco WestLB. Segundo o analista, os rumores envolvendo o presidente do BC acabaram acentuando uma tendência no mercado de câmbio. "Os boatos reforçaram a tendência de valorização do dólar, que já havia iniciado o dia em alta"

Embora os analistas não tenham dado muita atenção aos boatos, os investidores preferiram ser mais cautelosos, privilegiando os ativos que embutem menor grau de risco. Com isso, nem mesmo a queda das cotações do petróleo no mercado internacional, pelo segundo dia consecutivo, foi capaz de inverter o avanço na cotação da moeda americana. O barril do óleo tipo WTI, negociado na Bolsa de Mercadorias de Nova York, encerrou o dia em US$ 53,29, um recuo de 0,70%.

Embora os indicadores de inflação corrente estejam em processo de desaceleração, o movimento pode inverter, principalmente nos preços de atacado, mais sensíveis às variações das commodities internacionais. Por enquanto, o IGP-10 de outubro, medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), desacelerou para 0,23%, contra 1,25% de setembro.

Segundo analistas de mercado, o simples comportamento dos preços correntes poderia sugerir uma atitude menos conservadora por parte do Copom, que divulga hoje a nova Selic. No entanto, a percepção de um novo aumento para os preços dos combustíveis e seus impactos sobre a inflação indicam que o BC pode se valer de uma decisão preventiva (aumentar o juro para evitar desvio dos preços em relação à meta de inflação).

Os juros futuros, negociados na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), apontam para um ajuste entre 0,25 e 0,50 ponto percentual para a taxa Selic. Os contratos com vencimento em abril de 2005, os mais líquidos com R$ 17,5 bilhões em negócios, projetou uma taxa de 17,21% ao ano. No cenário internacional, houve desvalorização de 0,69% nos C-Bond. O papel, principal título da dívida externa brasileira, foi vendido a 98,625% do valor de face.