Título: Cooperativa aposta no abate de frangos
Autor: Cristina Rios
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/10/2004, Agribusiness, p. B-12

No Paraná, setor investe R$ 340 milhões de olho no aumento das exportações brasileiras. Embaladas pelo crescimento do setor, as cooperativas agropecuárias do Paraná avançam no mercado de frangos, um negócio concentrado, até pouco tempo atrás, nas mãos dos grandes abatedouros e empresas processadoras como Sadia, Perdigão e Doux Frangosul.

As empresas estão investindo, somente em 2004, R$ 340 milhões no setor, segundo dados do Sindicato e Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). Maior produtor nacional, com 25% de participação, o Paraná deve produzir 1,854 milhão de toneladas de frango neste ano, 14% acima do volume registrado em 2003. Desse total, 23% já são provenientes das cooperativas, que deverão ampliar ainda mais essa participação no abate nos próximos anos.

Nova unidade

A Cooperativa Agrícola Mista Rondon (Copagril), de Marechal Cândido Rondon, no extremo oeste do Paraná, prepara sua estréia no setor, com a construção de um frigorífico de R$ 30 milhões, que terá capacidade para abater inicialmente 80 mil aves por dia e entra em operação no início de 2005.

Dedicada até agora à produção de grãos, suínos e gado de leite, a cooperativa estréia na avicultura e espera que pelo menos 10% dos seus 3,5 mil cooperados entrem nesse mercado nos próximos dois anos. A expectativa, segundo o diretor-presidente da cooperativa, Ricardo Chapla, é alcançar abate diário de 150 mil aves nesse período.

"Os recursos investidos, incluindo o valor aplicado pelos produtores nos aviários e a construção de uma fábrica de ração, poderão chegar a R$ 100 milhões em dois anos", diz Chapla. "Os aviários são uma forma do agricultor diversificar sua atividade e integrar a cadeia, já que a cooperativa já tem atuação nos mercados de soja e milho", completa o diretor-presidente da Copagril.

Com forte atuação nesse mercado, a Cooperativa Agrícola Consolata (Copacol), sediada no município de Cafelândia (PR), no oeste paranaense, vai investir R$ 40 milhões na ampliação da sua capacidade de armazenagem e da produção de rações e frango. Com o projeto, o volume diário de abates deve passar de 260 mil para 280 mil aves. A avicultura é hoje uma das principais atividades da Copacol, que exporta 30% da produção principalmente para a Ásia e o Oriente Médio.

O aumento da demanda mundial e a incidência de doença da influenza aviária em vários países produtores abriram ainda mais espaço para o frango nacional no exterior em 2004. Segundo dados da Associação Brasileira dos Exportadores de Frango (Abef), de janeiro a setembro desse ano as vendas externas cresceram 43%, para 1,8 milhão de toneladas, e a receita cambial atingiu US$ 1,917 bilhão, 71,5% mais do que o apurado no mesmo período do ano passado.

Vendas externas

De olho nesse potencial, avicultores do noroeste do Paraná que trabalhavam para frigoríficos da região formaram a Cooperativa Agroindustrial Regional de Avicultores (Cooperaves), que começa a operar em 2005. Com sede em Paraíso do Norte, a cooperativa deve colocar em funcionamento o frigorífico dentro de 10 meses. Inicialmente a capacidade de abate será de 25 mil aves por dia. Mas a meta é chegar a 100 mil abates diários, dentro de cinco anos, segundo Gilmar Zolin, presidente da Cooperaves.

"Os avicultores apostaram em um negócio próprio para aumentar seus ganhos. Os frigoríficos da região pagam R$ 0,15 por cabeça, metade do valor oferecido pelas cooperativas do oeste", diz Zolin. "Além disso, as cooperativas contam com vantagens nesse mercado, como linhas de crédito diferenciadas que permitem carência e pagamentos maiores", acrescenta o presidente da cooperativa.

O apetite das cooperativas no mercado de frango começa a preocupar os frigoríficos, segundo Domingos Martins, presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar). "É assustador quando as cooperativas anunciam projetos de 100 mil abates por dia", diz. Segundo ele, o benefício mais evidente dado às cooperativas está na área de crédito.

"Enquanto o Prodeagro (Programa de Desenvolvimento do Agronegócio), que financia as empresas, oferece recursos com carência de seis meses e prazo de cinco anos para pagamento, o Prodecoop (Programa de Desenvolvimento Cooperativo para Agregação de Valor à Produção Agropecuária), das cooperativas, proporciona três anos de carência e 12 anos de prazo", afirma.

Os representantes dos frigoríficos já começaram a se articular para não perder mercado para as cooperativas. Na última segunda-feira, o Sindiavipar apresentou ao governo do Paraná um programa de modernização do setor. A proposta dos avicultores é a criação de uma linha de financiamento de R$ 600 milhões, com um crédito de R$ 200 mil para cada produtor, nos mesmos moldes do Prodecoop para carência e prazo para pagamento.

kicker: Apetite dos criadores preocupa a indústria, que pede crédito ao governo