Título: Usineiro quer novos mercados para o etanol
Autor: Lucia Kassai
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/10/2004, Agribusiness, p. B-12

"Temos que descobrir um `buraco¿ no (mercado de) etanol como esse encontrado no de açúcar, que foi objeto de uma ação vitoriosa contra a União Européia na Organização Mundial de Comércio (OMC)". As palavras do presidente da União da Indústria Canavieira do Estado de São Paulo (Unica), Eduardo Pereira de Carvalho, podem induzir o ouvinte a acreditar que a entidade estuda abrir um processo na OMC questionando subsídios concedidos ao etanol. Mas, quando questionado, Carvalho disse que não comentaria a declaração feita diante de uma platéia de 200 pessoas que participaram da IV Conferência Internacional da Datagro sobre Açúcar e Álcool.

"Se tivéssemos a intenção de entrar na OMC, eu não falaria sobre o assunto. Não posso entregar o ouro ao bandido", diz Carvalho. O executivo ressalta que não há nenhuma evidência de que Estados Unidos ou Europa paguem subsídios que possam ser questionados no âmbito da Rodada uruguaia, mas ressalta que tanto EUA como UE penalizam o etanol com elevadas taxas de importação.

Os Estados Unidos cobram uma taxa de importação de 54 centavos de dólar por galão de etanol. Na União Européia, a taxa é de ¿ 106 por m³ de álcool para uso industrial e de ¿ 194 por m³ para o álcool combustível. "Vale lembrar que os EUA transformaram o subsídio ao etanol em taxa de importação na segunda metade dos anos 80".

Carvalho diz que a tarifa de importação praticamente inviabiliza os embarques. A exceção ocorreu neste ano, quando os EUA importaram do Brasil 600 mil m³ de etanol. "O negócio só foi possível porque o preço caiu muito internamente e subiu muito nos Estados Unidos", afirma o presidente da Unica.

Estima-se que a demanda virtual dos Estados Unidos é de 600 mil m³ de álcool para 2005, volume esse que pode dobrar até 2010, para 1,2 milhões de m³. No mesmo período, a demanda européia poderia passar de 1 milhão para 3 milhões de m³.

Na semana passada, a UE anunciou que vai recorrer contra o Brasil, Austrália e Tailândia no processo da OMC sobre os subsídios concedidos ao açúcar. O processo custou até agora US$ 4 milhões aos produtores e usineiros. Estima-se que uma decisão final saia em meados de 2005. De acordo com uma fonte do Itamaraty, relatório de circulação restrita da Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE) considera de difícil reversão a decisão da OMC.