Título: Trinta navios sofrem efeitos da greve no Porto de Santos
Autor: Jadson Santos
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/08/2004, Transportes & Logística, p. A-12

Só as operações automatizadas se desenvolveram normalmente. No terceiro dia da operação-padrão dos estivadores do Porto de Santos, as operações portuárias sofreram um agravamento. A Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp ) informou, por meio de sua assessoria, que dos 30 navios atracados ontem, 20 estavam sendo manipulados com lentidão e os outros dez totalmente sem atendimento. As embarcações atendidas com operações automatizadas, não foram afetadas.

A principal operação a sofrer as conseqüências da greve continua sendo a exportação de açúcar. Depois, os fertilizantes e a seguir a movimentação de conteîneres. O presidente executivo da Associação Brasileira dos Terminais de Contêineres de uso Publico (Abratec), Sérgio Salomão, disse ontem que a operação padrão é, na realidade, "um boicote ao comércio exterior", no momento em que as exportações do País estão em franco crescimento. Ele diz, também, que o movimento "é uma resposta rebelde ao Tribunal Regional do Trabalho (TRT)".

O coordenador da Câmara de Terminais Especializados em Contêineres, Sérgio Aquino, informou que a Câmara de Contêineres apoiou totalmente a última proposta apresentada pelo Sopesp ao Sindicato dos Estivadores, e que as propostas anteriores do Sopesp apresentavam possibilidade de Programa de Demissão Voluntária (PDV). O programa proposto não se aplica aos trabalhadores aposentados, aos que completarão tempo de aposentadoria nos próximos três anos e ainda aos que não comprovem freqüência ao trabalho nos últimos seis meses. Aquino disse ainda que o programa de PDV poderia ser aplicado se fosse comprovado excesso do contingente de estivadores, fato este até o momento não comprovado.

Atualmente, 75% dos terminais do Porto de Santos são privatizados e 25 % de uso público. Todos eles foram atingidos pelo movimento, cujas conseqüências recaem, principalmente, sobre os ombros dos armadores. Cada navio paga US$ 30 mil pela diária, prejuízo que tentará repassar aos embarcadores. Tanto os terminais privados quanto os de uso publico pagam aos trabalhadores da estiva as mesmas diárias.

O Presidente do Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp), Carlos Eduardo Bueno Magano, lamenta que até o final da tarde de ontem, passados quatro dias desde a realização da última reunião entre patrões e empregados, o Sindicato dos Estivadores não tenha apresentado uma contraproposta à proposta de Convenção Coletiva de Trabalho encaminhada pelo Sopesp.

Magano disse, ainda, que nas tentativas de negociação que o Sopesp teve iniciativa de levar ao Sindestivadores sempre foram aceitos e contemplados no corpo das propostas todos os pontos reivindicados pela categoria .

"O único ponto que já se demonstrou ser inviável é o de conservar o número de trabalhadores das equipes atuais, muito acima do necessário, em função do avançado estado atual de automação nos terminais do Porto de Santos. Por tudo isso o Sopesp se sente usado e injustiçado, pois nenhum procedimento operacional utilizado nos últimos anos foi alterado de forma substancial, mas, num ato de força, o Sindestivadores decidiu pela chamada operação-padrão e tem tentado passar uma imagem à opinião pública que não reflete a realidade". Segundo ele, a operação-padrão "tem acarretado sérios prejuízos para a movimentação de cargas no porto, com o impedimento de operações até mesmo nos terminais automatizados, onde há portêineres em que se necessita de poucos trabalhadores para as tarefas. Isso já não configura operação padrão, em que se deveria obedecer a normas para a execução do serviço, mas ações sabotadoras, de vandalismo, de impedimento das operações a qualquer custo e descumprindo a própria lei de organização do trabalho", diz Magano.

"A melhor evidência de que a intransigência não é do Sopesp está no fato de que todos os sindicatos de categorias laborais do Porto de Santos já firmaram convenções coletivas de trabalho com o Sopesp", afirma ele.

Nossa expectativa é de receber do Sindestivadores o tratamento de profissionalismo e respeito, tão necessário ao aprimoramento das relações de trabalho. Por isso, voltamos a convidar o Sindestivadores a colocar com clareza os seus desejos e posições.

O presidente do Sidestivadores, Rodney Oliveira da Silva, os associados reivindicam um reajuste da diária que, segundo ele, está congelada desde 1997. O dirigente sindical disse que o Sindicato dos Operadores Portuários, que reúne as empresas que contratam os estivadores, chegou a admitir o reajuste de 50% da diária, mas em troca de uma redução de 70% dos postos de trabalho, detalhe negado pelo Sopesp, por intermédio de sua assessoria de imprensa. Segundo Rodney Oliveira da Silva, o movimento dos portuários será mantido até as 7 horas de hoje. À tarde, as duas partes têm audiência marcada no Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo.