Título: O livro continua insubstituível...
Autor: Ismael Pfeifer
Fonte: Gazeta Mercantil, 21/10/2004, Primeira Página, p. A-1

Segundo pesquisa da Câmara Brasileira do Livro, o País tem 26 milhões de leitores ativos. No ano passado foram produzidos 188 milhões de exemplares não-didáticos no mercado brasileiro. Mas apesar do crescimento de 11% este ano, o setor tem enfrentado problemas com um dos males do novo mercado, o da pirataria (o colombiano García Márquez, por exemplo, mudou o final de seu novo livro, "Memorias de mis putas tristes", para driblar as tiragens piradas que já estavam circulando no mercado latino-americano).

No encontro de Porto Alegre, temas como este serão debatidos durante três dias pela elite dos empresários do setor assuntos relacionados ao negócio editorial, suas tendências, perspectivas e desafios para os próximos anos. Estarão presentes o coordenador do Plano Nacional do Livro e Leitura "Fome de Livro", Galeno Amorim; o presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, José Henrique Paim Fernandes; o senador Pedro Simon e o presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Pedro Corrêa do Lago, entre outros.

Para Oswaldo Siciliano, presidenste da CBL, entidade que organiza o evento, "os encontros sempre tiveram papel estratégico para o setor, porque, além de ampliar e aprofundar o debate em torno de questões pertinentes ao livro, preconizam a definição de propostas a serem executadas".

Editoras e livrarias movimentaram em 2003 cerca de R$ 3,3 bilhões e produziram 299 milhões de exemplares. Entre lançamentos e reedições, foram editados 36 mil títulos. Trata-se de um mercado potencial e muito peculiar, com um vasto número de consumidores a serem conquistados (apenas 26 milhões de brasileiros são leitores ativos), mas que sofre diretamente os efeitos do déficit educacional e da baixa renda per capita do brasileiro.

"O desempenho do setor está intimamente ao da economia. Quando as pessoas não têm dinheiro disponível, nossas vendas despencam", conta Bernardo Gurbanov, vice da CBL que também é dono da livraria Letra Viva. A programação do encontro de Porto Alegre procurou equilibrar temas relacionados ao negócio das empresas e ao contexto político e social em que o livro está inserido. "O empreendedorismo a favor do livro"; "O livro dentro da política do Ministério da Cultura"; "Marketing de relacionamento como diferencial competitivo" e "Os efeitos da pirataria do livro para o Brasil", são alguns dos assuntos que estarão em pauta (a programação completa está no site www.cbl.org.br).

"O comprador de um livro não compra simplesmente um produto. Compra o intangível, o simbólico, o `não-produto¿. Por isso o planejamento de marketing ou vendas do livro deve partir do profundo conhecimento do que realmente deseja o comprador", teoriza o consultor de empresas Cesar Souza, que ministrará a palestra "Planejamento estratégico para o mercado editorial".

Coordenadora da pesquisa "Retrato da Leitura no Brasil", considerado o mais abrangente estudo sobre o tema realizado no País, a professora da Fundação Getúlio Vargas, Adélia Franceschini, acredita que entre os maiores entraves para o desenvolvimento da hábito de ler estão a baixa qualidade do ensino no País, que trata a leitura sem atrativo, e a falta de acesso aos livros, seja pelo preço e falta de biblioteca nas escolas e municípios.

Um outro desafio a ser vencido está na promoção e divulgação do livro. "Poucas são as editoras que traçam uma estratégia de divulgação baseada na especificidade da obra/autor/tema, para explorar todas as possibilidades de atrair os leitores. Ironicamente, o principal canal de divulgação das editoras é a própria mídia impressa. Se temos que atrair novos leitores, porque só falamos com quem já é leitor?", questiona a palestrante Heloísa Sobral, sócia-diretora da HMC, agência especializada na estratégia de distribuição e divulgação de produtos e serviços.

Segundo Gurbanov, no capítulo marketing, uma das estratégias mais bem sucedidas nos últimos anos são as feiras, que alcançam cada vez mais público e colocam o leitor potencial de frente com o produto. Um exemplo, explica o vice-presidente da CBL, é a 2 Feira Pan Amazônica, que ocorreu em Belém, do Pará, em setembro. "Atraiu um público de 300 mil pessoas, um recorde", conta. A Bienal de São Paulo atrai normalmente 1 milhão de visitantes, boa parte jovem, justamente o público que entra no mercado e que as editoras mais desejam conquistar - porque são maleáveis para a conquista da leitura do que adultos distantes do hábito dos livros.

Profissionais de sucesso de outras áreas também foram convidados e estarão no encontro de Porto Alegre para compartilhar suas experiências com os profissionais do livro. Entre eles, o fundador da Natura, Antonio Luiz Seabra; o presidente da Trump Brasil, Ricardo Bellino e o presidente do Grupo Gerdau, Jorge Gerdau.

Pesquisa mostra baixa leitura

Segundo a pesquisa "Retrato da Leitura no Brasil", promovida pela Câmara Brasileira do Livro, existem no País 26 milhões de leitores ativos - são considerados os que leram ao menos 1 livro nos últimos três meses, o que corresponde a 30% da população adulta alfabetizada.

O estudo também revela que a leitura de livros é realmente apreciada apenas por 1/3 da população adulta alfabetizada, sendo que 61% dos brasileiros adultos alfabetizados têm muito pouco ou nenhum contato com livros. As classes BC concentram 70% dos apreciadores de livro e 16% da população concentra em casa 73% dos livros. A maioria dos compradores de livros, 58%, está nas regiões Sudeste e Sul.