Título: O mecanismo do desenvolvimento
Autor: Antonio Oliveira Santos
Fonte: Gazeta Mercantil, 21/10/2004, Opinião, p. A-3

Este ano marcará o princípio de um novo período de crescimento. A economia brasileira teve uma bolha de crescimento no ano 2000, basicamente devido ao volume das privatizações que trouxe para o País investimentos estrangeiros, no valor global de R$ 33 bilhões. Nos últimos dez anos, porém, as atividades econômicas estiveram em recessão.

Este ano marcará o início de um novo período de crescimento, cuja origem pode ser encontrada no extraordinário aumento da produtividade do setor agropecuário. A partir daí, ganharam força as exportações, ajudadas pela entrada da China no mercado internacional. Por sua vez, o aumento da renda no setor rural desencadeou a expansão do setor industrial, favorecido também pela retomada das exportações de produtos manufaturados para Argentina, México e Estados Unidos, principalmente.

Se essa análise está correta, tudo terá começado com a agricultura e, por trás dela, vamos encontrar a Embrapa, com suas extraordinárias pesquisas e o desenvolvimento tecnológico, que promoveram uma verdadeira revolução no aumento da produtividade.

O crescimento das exportações pôs em marcha um movimento global de expansão do mercado interno, ajudado pelo crescimento do crédito bancário. O volume de crédito, nos últimos 12 meses, aumentou 22,5% para o setor rural, 26,6% para o comércio (capital de giro) e mais 28,2% para pessoas físicas (financiamento direto ao consumidor), comparado com uma inflação (IPCA) de 6,7%.

No conjunto, até agosto verifica-se uma expansão de 8,8% da produção industrial, com aumento de 26,2% no setor de máquinas e equipamentos. O faturamento real do comércio, paralisado durante seis anos, está registrando um aumento de 7,4%, compreendido no período de janeiro a julho deste ano.

O Brasil está vivendo, pois, o início de um círculo virtuoso de crescimento econômico, em que a agricultura puxa a indústria, o comércio puxa o mercado interno e começa a crescer o nível de emprego e de renda. A sustentação desse movimento de prosperidade (desenvolvimento sustentado) vai depender, agora, do governo. Isso porque existem dois graves obstáculos ao crescimento econômico: a brutal carga tributária, que suga as poupanças do setor privado e inibe os investimentos, e a ausência de obras de infra-estrutura, cerceadas pela falta de iniciativa governamental, pela burocracia e pelas restrições ambientais. O Brasil está ficando para trás na disputa pelos investimentos estrangeiros, e do 3 lugar no ranking já baixou para o 17. Não há confiança dos investidores na burocracia oficial brasileira. E isso precisa mudar.

Até agora, tudo foi feito pelo setor privado. Chegou a hora da mobilização do setor público, inclusive do Congresso Nacional, não só para ajudar, como para não atrapalhar.

kicker: Chegou a hora da mobilizar o setor público não só para ajudar, mas para não atrapalhar