Título: Criadores de camarão da América Latina vão discutir dumping
Autor: Angelo Castelo Branco)
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/08/2004, Agribusiness, p. B-12

O presidente da ABCC, Itamar Rocha, diz que os empresários vão discutir os baixos preços pagos ao produtor de camarão no mercado internacional, as distorções de valores nas diversas etapas da cadeia comercial do produto, o avanço mundial da demanda e as implicações da ação antidumping contra os seis maiores exportadores do crustáceo, incluindo Brasil e Equador, além de China, Tailândia, Índia e Vietnã.

"No primeiro dia do evento cada país vai apresentar um perfil dos preços pagos ao produto e o valor que o camarão é repassado ao consumidor. Também vamos discutir estratégias nacionais e regionais para reverter essa política cruel de preços, além de analisar se é viável agregar valor ao camarão latino-americano", afirma Rocha. O encontro - idealizado pela Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC) - teve articulação da empresa uruguaia Infopesca, que atua no desenvolvimento de projetos pesqueiros e aqüícolas.

Participam do evento produtores de camarão de cultivo da Argentina, que também atua no segmento de captura do crustáceo. Em 2003, a América Latina produziu 271 mil toneladas de camarão cultivado e o Brasil liderou a produção, com um volume de 90 mil toneladas (33,2%). Na sexta-feira, os temas em pauta são a criação de uma organização setorial regional, a implantação de uma rede on line de informações e a formação de uma diretoria de produtores e exportadores de camarão dos países da América Latina.

O presidente da ABCC ressalta o total desalinho entre o crescimento da demanda e a retração nos preços pagos ao produtor de camarão. "Demanda aquecida não combina com preços baixos, principalmente quando sabemos que existe uma escassez de oferta de produto no mercado. Essa matemática está equivocada e precisamos modificá-la", afirma Rocha.

Para se ter uma idéia dessa equação, em 2003 os importadores norte-americanos desembolsaram US$ 3,76 bilhões na compra do crustáceo e registraram faturamento de US$ 12 bilhões, com a transformação e distribuição do produto. Só a indústria de processamento do camarão promoveu a geração de 200 mil empregos nos Estados Unidos. "Esses números demonstram que são os americanos quem estão faturando com as importações do camarão, porque para o produtor a cotação do produto esteve em franco declínio nos últimos anos", informa Itamar Rocha.

De janeiro a maio de 2004, o preço médio do quilo do camarão pago ao produtor no mercado americano caiu cerca de 18%, passando de US$ 7,76 para US$ 6,56. Em contrapartida, os preços nos restaurantes subiram 28% nos últimos dois anos.

Hoje, os restaurantes representam 70,2% do consumo de camarão nos EUA, contra 29,2% dos supermercados. No último dia 22, enquanto a cotação da libra para o produtor estava fixada em US$ 4,91 para o camarão (21-25), o preço para o mesmo camarão nos supermercados americanos chegava a US$ 13,99.

Com a ameaça antidumping a demanda se aqueceu. Segundo dados da consultoria espanhola Globefish, no primeiro trimestre, os EUA importaram 58% mais que no ano passado. O avanço do consumo também é uma tendência na Ásia e na Europa.