Título: Superávit de US$ 1,7 bi deve ir a US$ 900 milhões em outubro
Autor: Simone Cavalcanti
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/10/2004, Nacional, p. A-4

Balanço de pagamentos tem déficit de US$ 400 milhões em setembro. A conta de transações correntes registrou superávit de US$ 1,74 bilhão em setembro, o melhor resultado para o mês desde o início da série, em 1947. De acordo com o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, o resultado vem confirmar o bom desempenho do setor externo que o país vem apresentando, pelo menos nestes últimos 12 meses. Para outubro, Lopes projeta novamente um saldo positivo. Desta vez um pouco menor, mas ainda significativo: US$ 900 milhões.

No acumulado entre janeiro e setembro deste ano, o superávit chega a US$ 9,6 bilhões. No mesmo período de 2003, o saldo foi US$ 3,8 bilhões. Lopes destacou também que houve recorde no resultado apurado de US$ 9,8 bilhões no período de 12 meses, o equivalente a 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB), ante 0,73% do PIB no período passado.

Mas o forte resultado em transações, impulsionado uma vez mais pelas exportações e a entrada de recursos estrangeiros, não foi suficiente e o balanço de pagamentos teve déficit de US$ 400 milhões. Houve saídas de recursos na conta de serviços, que registrou déficit de US$ 437 milhões, as remessas líquidas de renda para o exterior somaram US$ 1,2 bilhão, as saídas líquidas de renda de investimento direto foram de US$ 419 milhões (dos quais US$ 353 milhões de lucros e dividendos), além das remessas líquidas de renda de investimento em carteira, que somaram US$ 316 milhões.

A entrada de investimentos estrangeiros diretos foi de US$ 646 milhões em setembro, praticamente 10% do montante que ingressou no mês passado (US$ 6,09 bilhões). Mesmo assim, esse foi um bom resultado na avaliação do chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes. Para outubro, a previsão de investimentos é de US$ 1,6 bilhão. Até hoje, já ingressaram no país US$ 1,1 bilhão, segundo Lopes. De janeiro a setembro deste ano o ingresso chegou a US$ 12,4 bilhões, sendo que a projeção para 2004 é de US$ 17 bilhões. Em 12 meses, os investimentos somam US$ 16,06 bilhões, o equivalente a 2,94% do Produto Interno Bruto (PIB).

Redução da vulnerabilidade

Lopes ressaltou que o ingresso dos investimentos aliado aos resultados robustos em conta-corrente tem contribuído para a redução do endividamento externo, principalmente do setor privado. "E isso permite a redução da vulnerabilidade externa do país."

A projeção da dívida externa brasileira para julho ficou em US$ 202,9 bilhões, um recuo frente à de junho, que foi de US$ 205,5 bilhões, segundo nota do setor externo divulgada ontem pelo Banco Central.

A parcela com vencimento no médio e longo prazos ficou em US$ 183,54 bilhões, ante os US$ 185,73 bilhões no sexto mês do ano e a de curto prazo caiu para US$ 19,43 bilhões frente aos US$ 19,82 bilhões anteriores. O setor público não-financeiro representou 56% do total da dívida com US$ 113,7 bilhões. De acordo com o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, os consecutivos resultados superavitários em conta-corrente e fluxo dos ingressos de investimentos estrangeiros têm contribuído para a redução da dívida externa.

Na análise divulgada ontem, a redução de US$ 2,2 bilhões na dívida de médio e longo prazo está relacionada às saídas líquidas de US$ 1,4 bilhão em operações de mercado e US$ 806 milhões das variações do câmbio. Houve ingresso de US$ 1 bilhão de uma captação feita pelo governo brasileiro no mês de setembro.

Além disso, foram registradas saídas para pagamento de bônus do setor privado (US$ 250 milhões), notes (US$ 891 milhões) e organismos internacionais (US$ 653 milhões). Já a redução de US$ 400 milhões na dívida de curto prazo, teve como principal fato a diminuição nas obrigações em moedas estrangeiras dos bancos comerciais.

As empresas continuam fazendo mais resgates de dívidas de médio e longo prazos do que efetivamente captando no exterior. Em setembro, a taxa geral de rolagem ficou em 26%, sendo 24% para papéis e 31% de empréstimos diretos. Para outubro já é observado um aumento, devido a uma série de captações que as empresas estão fazendo. Até hoje, a taxa geral já estava em 51%, sendo 36% para papéis e 107% para empréstimos diretos.

Na avaliação de Lopes, há uma recuperação bastante marcante e o aumento das taxas de rolagem está contribuindo para o saldo positivo no câmbio contratado. "O clima está melhorando e estamos vendo uma série de captações acontecendo."

Nas operações com instituições no exterior via CC5 (compra e venda de moeda estrangeira e ouro contra moeda nacional), setembro teve operações de US$ 813 milhões. Resultado bem inferior ao observado no mês anterior, que somou US$ 2,11 bilhões, praticamente a metade do total no ano até setembro, de US$ 4,46 bilhões.