Título: Entressafra e demanda interna desaceleram as exportações
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/10/2004, Nacional, p. A-5

"O Brasil não abre mão do mercado argentino de geladeiras", diz Furlan. As exportações brasileiras iniciaram uma trajetória de desaceleração e já acumulam em outubro uma retração de 15% no volume dos embarques, em comparação com setembro. A informação foi transmitida ontem pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan. Ele antecipou que em novembro e dezembro serão observados novos recuos influenciados pela entressafra agrícola e pela maior demanda no mercado interno.

Os setores mais afetados são os de produtos siderúrgicos e as commodities. "O fim do ano normalmente é um período de queda das exportações. Já temos neste momento sinais visíveis de redução", afirmou Furlan. Nos últimos 12 meses, a receita com as exportações soma US$ 91 bilhões, próxima, portanto, da meta de US$ 94 bilhões estabelecida para 2004. Apesar da pequena diferença, o ministro comentou que o cumprimento da meta dependerá do movimento dos dois últimos meses do ano, período de retração nos embarques destinados ao exterior.

Furlan chamou a atenção para o início da perda de fôlego das exportações, mas considerou que parte dos produtos que estão sendo direcionados ao mercado interno pode estar sendo usada na fabricação de bens de valor agregado destinados ao mercado externo. "A cadeia produtiva é longa e estamos exportando produtos de valor com base na siderurgia, como automóveis, máquinas e equipamentos e material de construção."

Guerra das geladeiras

Ao abordar as barreiras impostas pela Argentina à exportação de produtos da linha branca fabricados no Brasil, o ministro do Desenvolvimento disse que o governo brasileiro não aceitará abrir mão do mercado argentino. "Se é para abrir mão para terceiros não tem jogo. E não ter jogo significa que nós podemos usar ferramentas equivalentes", advertiu.

Em seguida, ele adotou um tom mais ponderado e disse que o termo "usar ferramentas equivalentes" não significa retaliação e que em novembro haverá uma nova reunião entre representantes dos dois países. "Vamos nos reunir e entender por que em setembro não foi exportada nenhuma máquina de lavar, se já se passaram 60 dias do processo de licenças não-automáticas. Não podemos imaginar que essa situação possa continuar `ad infinitum¿. Não é razoável." Na última terça-feira, Furlan e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, conversaram por telefone com o ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, sobre o assunto. Os ministros pediram explicações sobre os motivos que levaram a Argentina a impor barreiras às geladeiras, lavadoras, fogões e televisores fabricados no Brasil, ao mesmo tempo em que os importadores argentinos abriram canais de compra com fabricantes mexicanos e chilenos.

Furlan falou também sobre o fracasso das negociações entre o Mercosul e a União Européia (UE) para o estabelecimento de um acordo comercial birregional. Na avaliação dele, as negociações não foram completamente invalidadas. "Todo acordo e negociação tem que ter um saldo positivo para cada um dos lados. O setor privado está engajado e há interesse político dos dois lados e o que precisamos é suar mais a camisa."

Ele informou que até o fim do ano será agendada uma reunião técnica sobre o tema e que no primeiro trimestre de 2005 será realizada uma reunião ministerial. Na ocasião, será analisada a viabilidade real ou não de um acordo comercial entre os dois blocos.