Título: PF prendeu quadrilha que desviou R$ 240 milhões pela internet
Autor: Hugo Marques
Fonte: Gazeta Mercantil, 21/10/2004, Legislação, p. A-7

A Polícia Federal (PF) prendeu ontem uma quadrilha de piratas de computadores, internautas e laranjas, que desviou R$ 240 milhões de bancos públicos e privados do País este ano, pela internet. Até o início da noite, a PF prendeu 53 pessoas, mas há um total de 80 mandados de prisão. Pelos cálculos dos delegados envolvidos na Operação Cavalo de Tróia II, o prejuízo a correntistas ainda soma R$ 80 milhões, pois grande parte do dinheiro desviado vem sendo recuperado pelas polícias ou pago por seguros.

As prisões de ontem aconteceram no Pará, Tocantins, Maranhão e Ceará. Entre os cabeças da quadrilha estão Fábio Florêncio, que encomendou programas de computador para desviar dinheiro pela internet, e Athaíde Evangelista, que teria criado um dos programas, o Disney.com, para a realização das fraudes. A quadrilha revendeu os programas de computador para várias outras células, nos estados, com as quais se comunicavam por e-mail e telefonemas, como forma de atualizar o software da fraude. Com os programas, as células da quadrilha nos estados enviavam mensagens eletrônicas para milhares de computadores. Junto com o e-mail, ia um vírus que se instalava no disco rígido do computador para capturar as senhas de bancos e os extratos bancários do correntista.

"A quadrilha desviou dinheiro de correntistas de todo o País, principalmente no Sul e no Sudeste, onde as pessoas acessam mais e-mails", afirma o delegado Cristiano Barbosa, que coordenou a operação. O esquema montado já estava em um nível tão sofisticado que os bandidos pagavam as contas de mais de mil pessoas, pela metade do preço. Para pagar uma conta de R$ 1 mil, por exemplo, estas pessoas davam apenas R$ 500 para o hacker debitar o valor na conta de algum correntista do qual tinham acessado os dados bancários. A quadrilha tinha vários "cartãozeiros" ou "biscoitos", especializados na aquisição de cartões bancários. Mais de mil correntistas laranjas emprestam suas contas bancárias e seus cartões para receber as transferências do dinheiro desviado pelos hackers. Após receber e distribuir o dinheiro fraudulento, estes laranjas iam à delegacia de polícia prestar queixa de perda de cartão, para dissimular as operações ilegais. Ao emprestar a conta aos bandidos, o correntista recebia até R$ 500.

Os criminosos criaram empresas de fachada para lavar dinheiro da quadrilha. Estas empresas também participavam das operações de pagamento de boletos com o dinheiro desviado na internet. A PF pretende chamar grande parte das mais de mil pessoas que se beneficiaram este ano com o pagamento de contas por intermédio do esquema fraudulento. "Nosso objetivo é indiciar todo mundo", diz o delegado Cristiano.

Todos os envolvidos devem responder por crimes de formação de quadrilha, estelionato e quebra de sigilo bancário. Em novembro do ano passado, a PF prendeu 55 pessoas na primeira versão da Cavalo de Tróia, mas na época a maioria era de beneficiários do esquema.