Título: A UE e o Mercosul confirmam que acordo não sai antes de 2005
Autor: Gisele Teixeira, Claudia Mancini
Fonte: Gazeta Mercantil, 21/10/2004, Internacional, p. A-8

Representantes do Mercosul e da União Européia (UE) oficializaram ontem que o acordo comercial em negociação desde 1999, não será fechado até 31 de outubro próximo. Numa reunião ontem, em Lisboa, ficou decidido que haverá, até o fim do ano, uma reunião de coordenadores, para preparação de uma ministerial no primeiro trimestre de 2005, para retomada das discussões.

"Não é segredo, um não está satisfeito com a oferta do outro", afirmou o comissário de Comércio da UE, Pascal Lamy, que participou da reunião. E disse que "um acordo entre países em desenvolvimento e uma União Européia desenvolvida torna as coisas muito complexas". Esse acordo pode formar a maior área de livre comércio do mundo, com 650 milhões de pessoas.

O chanceler Celso Amorim, um dos representantes do Mercosul no encontro, disse que não foram colocadas novas propostas sobre a mesa, mas que as duas partes exploraram "áreas de possível flexibilidade". Segundo ele, há questões sensíveis dos dois lados, "mas estão sendo feitos esforços para superá-los."

O encontro durou seis horas. Segundo um negociador brasileiro que participou da reunião, a maior preocupação das duas partes era fixar um cronograma, "para não deixar morrer o processo e perder os avanços feitos até agora". "Foi uma reunião essencialmente política", disse uma fonte do Itamaraty. De acordo com o ministério, a definição de um calendário mostra haver disposição de continuar negociando. A idéia, daqui para frente, é "aprofundar o conhecimento recíproco dos pontos de maior conflito", para tentar encontrar alternativas de flexibilização. "Vamos pinçar os itens mais controversos e fazer exercícios", disse a fonte.

O Itamaraty afirmou ter achado positiva uma declaração de Lamy, de que ontem os blocos teriam bases para fechar um acordo, mas que concluíram que não seria tão ambicioso quanto o desejado. E que o melhor seria dar oportunidade para se aprofundar a negociação. Um comunicado divulgado afirma que "enquanto progresso foi feito nesta reunião, os ministros também concordaram que muito mais precisa ser feito para se atingir o nível de ambição que reflete a importância estratégica desse acordo para a UE e o Mercosul."

"Era o esperado"

Para Pedro Camargo Neto, conselheiro da Sociedade Rural Brasileira (SRB), o resultado do encontro "era o esperado". Também é, segundo ele, reflexo da paralisação das negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), uma vez que o acordo hemisférico poderia incentivar os europeus a negociarem com o Mercosul, para não perderem espaço na região.

A data de 31 de outubro foi prevista num cronograma estabelecido há um ano, mas com os impasses nas discussões nos últimos tempos, ficou cada vez mais difícil acreditar em seu cumprimento. O prazo tem relação com a troca de comissários da UE, que ocorre em 1º de novembro. Para alguns observadores, essa troca pode pelo menos atrasar por meses as discussões, até os novos negociadores decidirem o que farão sobre o acordo.

As diferenças entre os blocos concentram-se em temas como a abertura do mercado agrícola europeu e o de serviços e compras governamentais do Mercosul.