Título: Copom eleva Selic além do esperado
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Gazeta Mercantil, 21/10/2004, Finanças & Mercados, p. B-1

Com o juro a 16,75%, o Banco Central aperta ainda mais, de olho na inflação de 2005. O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decidiu ontem por unanimidade elevar a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 0,50 ponto percentual - de 16,25% para 16,75% ao ano -, mesmo com os indicadores da inflação mostrando desaceleração dos preços. A taxa atual é a mais alta desde novembro de 2003. Com a nova Selic, o juro real sobe de 9,47% para 9,97%.

O aumento da Selic surpreendeu o mercado, que apostava em uma elevação de 0,25 ponto percentual, igual à determinada pelo comitê na reunião do mês passado. Em nota, o BC citou que o aumento deu "prosseguimento ao processo de ajuste moderado da taxa de juros básica iniciado na reunião de setembro". A leitura feita pelo mercado financeiro é de que a decisão mostra menos tolerância da autoridade monetária a choques que possam ameaçar a estabilidade de preços.

Para o economista-chefe do ABN Amro, Hugo Penteado, o recado do BC foi bastante duro. "O objetivo com a decisão é deixar claro para o mercado que a autoridade monetária, diferente do que muitos pensam, não será leniente com a inflação", disse. O mercado em geral, segundo Penteado, continua pessimista quanto à perspectiva inflacionária para 2005 e o BC quer mudar isto. Ele cita como exemplo o último relatório de mercado do BC em que as cinco instituições que mais acertam suas previsões - Top 5 - elevaram as projeções para 2005. A expectativa do IPCA passou de 5,9% no penúltimo boletim para 6,10% no divulgado na segunda. "O BC jogou duro para alterar esta percepção."A necessidade de provocar um choque no mercado é o mesmo argumento utilizado pelo economista-chefe do Bradesco, Octavio Barros, para explicar o aumento definido pelo Copom. "O comitê mostrou claramente que está determinado a jogar a expectativa de inflação para baixo e quer ver isto refletido nas próximas previsões do mercado", diz Barros.

Outro fator que, segundo o executivo, pesou na decisão do Copom foram os boatos de que poderia ocorrer alguma tentativa de ingerência do governo pela manu-tenção da Selic. "A decisão de subir a taxa em 0,5 pp foi uma demonstração inequívoca de autonomia do BC" avalia. As projeções do Bradesco de uma Selic em 17% no final de 2004 ainda não foram mudadas. "Vamos ainda refletir para saber se o reforço no aperto pode indicar uma alta na projeção da taxa ao final do ano."

Os motivos que levaram o Copom a decidir por um aperto ainda mais forte na política monetária, segundo o economista-chefe do HSBC, Mario Mesquita, só devem ser conhecidos na divulgação da ata da reunião. "Foi uma surpresa a alta de 0,5 ponto, mas vejo como positivo o fato de ter havido unanimidade na decisão", diz. Na reunião anterior, em setembro, a decisão foi tomada com um Copom dividido: foram oito votos pelo 0,25pp e três a favor de uma alta de 0,5pp. "Um fator que acredito tenha sido bastante ponderado na reunião são os sucessivos recordes no preço do petróleo", diz. "O BC já está se prevenindo dos reflexos na inflação de um já esperado aumento dos combustíveis".

O preço do petróleo também é apontado por João Rabêllo, do banco Fibra, como determinante na decisão do Copom. "A inflação corrente mostra desaceleração, mas a alta do óleo fez com que o BC tomasse uma decisão preventiva", diz Rabêllo, lembrando que já se espera novo reajuste.

Ontem, o IPC da Fipe apontou inflação de 0,38% em São Paulo na segunda quadrissemana de outubro (período de 30 dias terminado em 15/10). O índice ainda não mede o impacto da alta dos combustíveis anunciado pela Petrobras na semana passada - 2,4% na gasolina e de 4,8% no diesel. Pela projeção da Fipe, a alta dos combustíveis terá impacto de 0,09 ponto percentual na inflação de São Paulo. A meta da inflação para este ano é de 5,5%, com margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. Para 2005, a meta é de 4,5%.