Título: "Sinais negativos à decisão de investir"
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Gazeta Mercantil, 21/10/2004, Finanças & Mercados, p. B-1

A decisão do Copom não agradou a empresários do setor produtivo, mas as reações foram ponderadas. O presidente da Federação das Indústrais do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, divulgou a seguinte nota: "Mais do que se limitar às críticas e análises econômicas, os empresários, bem como os trabalhadores, devem mobilizar-se no sentido de participar mais das decisões nacionais. Precisamos ser cada vez mais pró-ativos nesse sentido, para demonstrar com clareza, diante de decisões como esta do Copom, que é questionável manter juros elevados num mercado ainda distante de qualquer risco de inflação de demanda. A melhor solução para evitar a alta de preços, refreando pressões inflacionárias, seria estimular investimentos, visando ao aumento da oferta e da produção, criando mais empregos e desencadeando um círculo virtuoso na economia brasileira".

O diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida, considerou-a prematura. "Os indicadores da inflação corrente vêm apontando queda e o Copom tinha condições de segurar a alta por algum tempo", disse. "Eles foram muito prudentes e imagino que a alta nas cotações do petróleo tenha influenciado na decisão de aumentar a Selic acima da expectativa".

Juro mais alto pode desestimular investimentos. "A decisão causa insegurança e deve fazer com que muitas empresas decidam esperar um pouco antes de destinar grandes recursos no aumento da capacidade produtiva ou mesmo em novas plantas", lamenta Almeida. A leitura feita pelo setor produtivo, em sua opinião, é de que o BC está dobrando suas apostas em uma piora no quadro geral em 2005. "Como a previsão era de um aumento de 0,25 ponto, a decisão de dobrar este valor leva todo mundo a imaginar que a perspectiva de inflação para 2005, projetado pelo BC, é pior do que se pensava."

A Confederação Nacional da Indústria (CNI), em nota assinada pelo presidente em exercício Carlos Eduardo Moreira Ferreira, tachou de equivocada a decisão, "danosa à produção e ao investimento". Na avaliação da CNI, a economia não enfrenta pressões inflacionárias decorrentes de excesso de demanda. A nota acrescenta: "O aperto da política monetária passa sinais negativos às decisões de investimento, podendo, aí sim, gerar problemas futuros de falta de capacidade de produção".

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos e Serviços para o Varejo (Abiesv), Marcos Andrade, disse que a decisão do Copom "põe um freio na expectativa de expansão" de seu setor e "prejudica a competitividade das empresas".