Título: Preço do café em rota de recuperação
Autor: Alexandre Inacio
Fonte: Gazeta Mercantil, 21/10/2004, Relatório, p. 2

Após quase quatro anos com prejuízos, produtor rural deve fechar ano de 2004 com lucro. Um apartamento em Nova York, um campo de pólo, entre outros patrimônios tiveram que ser vendidos para que Luiz Hafers, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB) e um dos mais tradicionais cafeicultores do Brasil, se mantivesse na atividade nesse período de crise. "Ainda não foi possível recuperar todos os prejuízos que tivemos com o café nos últimos cinco anos, mas estamos chegando perto do preço ideal", diz Hafers.

Demorou, mas finalmente os produtores de café conseguirão não ter prejuízos com a cultura e fecharão o caixa das propriedades no azul. Na pior das hipóteses, o faturamento será o mesmo dos gastos com a lavoura este ano. "Não se recuperou tudo, mas os resultados desse ano vai ajudar a não aumentar o prejuízo", afirma José Vicente Ferraz, analista da FNP Consultoria.

Preços em alta

Ao longo de todo ano, os preços do café estão em contínua ascensão, tanto no mercado interno quanto para exportação, principalmente no que se refere ao arábica. Dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) mostram que o preço médio FOB do produto, apenas no mês de setembro, foi de US$ 73,75 por saca, bem acima dos US$ 61,08 registrados no mesmo período do ano passado - alta de 20,74%.

"Os preços internacionais vêm melhorando de forma gradual e constante. A média de 45 centavos de dólar por libra-peso de julho de 2002 já chegou a 77 centavos atualmente", afirma Guilherme Braga, diretor-geral do Cecafé.

O principal motivo para a recuperação dos preços é o equilíbrio entre oferta e demanda. Segundo Braga, na safra 2002/03, período das maiores quedas, a safra mundial chegou a 124 milhões de sacas, para um consumo de 110 milhões. "Para a safra 2004/05 é estimada uma oferta de 112 milhões de sacas para um consumo da mesma ordem, o que reforça a tendência de equilíbrio e retomada dos preços", afirma Braga, lembrando que a queda na produção é reflexo da redução da safra 2003/04 no Brasil, de 32 milhões de sacas.

No mercado futuro, em Nova York, as cotações apontam para um valor de 79,45 centavos de dólar por libra-peso, um desempenho 20,2% superior ao mesmo do ano passado. "Acredito que os preços ideais para o café serão alcançados em 2005, quando a safra brasileira será menor", afirma Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, de Santos. Apesar de não existir ainda um número oficial, a próxima safra é estimada pelo mercado em 30 milhões de sacas.

Apesar de representar um incentivo à produção, preços altos demais podem ser perigosos, segundo Hafers. O produtor considera que o valor ideal é algo ao redor de US$ 80 e US$ 90 por saca. "Preço alto derruba o consumo na ponta e a recuperação na oferta por parte dos produtores não consegue ser tão rápida. É por isso que poderiam ser criadas políticas anti-cíclicas para resolver a situação."

Estoque menor

Além da redução da oferta mundial, outro motivo que tem sustentado os preços, segundo a avaliação de Hafers, é a redução dos estoques nas mãos dos produtores. "Dizer que existem 20 milhões de sacas estocadas com as empresas não representa muita coisa, já que elas precisam desse café para atender o mercado consumidor. Essa é uma posição neutra para o mercado", afirma Hafers.

Carvalhaes lembra que apesar da alta dos preços ser parte de um período cíclico da cultura, a diferença é que o produtor tem nos dias de hoje a chance de diversificar sua produção. "Não é tão fácil convencer o agricultor a plantar novamente café depois de um período de crise. Hoje ele tem a opção de plantar soja, milho, cana, laranja e outras culturas que oferecem resultados", explica Carvalhaes, ao lembrar que o desenvolvimento do agronegócio no Brasil fez com que os produtores reduzissem seus riscos, adotando outras culturas e transformando-se em empresários.