Título: Vale projeta alcançar US$ 5 bilhões
Autor: Raimundo José Pinto
Fonte: Gazeta Mercantil, 21/10/2004, Gazeta do Brasil, p. B-13

Do portfólio de projetos de US$ 8,5 bilhões da empresa até 2010, cerca de US$ 5,5 bilhões serão investidos no Pará. A estratégia de crescimento da Companhia Vale do Rio Doce está diretamente associada ao fortalecimento das exportações. A empresa deverá chegar ao final de 2004 com um volume de exportações de US$ 5 bilhões, bem acima da exportação líquida de US$ 3,4 bilhões obtida ano passado, sendo a empresa que mais contribui para o saldo líquido da balança comercial brasileira.

E o Pará tem destaque nessa estratégia: do portfólio de projetos de US$ 8,5 bilhões da Vale até 2010, cerca de US$ 5,5 bilhões serão investidos no estado.

Só nos canteiros de obras durante a fase de implantação dos projetos, deverão ser gerados mais de 26 mil empregos diretos no estado, entre próprios e de terceiros. E os empregos diretos nas empresas da Vale em território paraense deverão passar dos atuais 16 mil para cerca de 25 mil.

Esses foram alguns dos números revelados pelo diretor executivo de não-ferrosos da Vale, José Lancaster, durante uma exposição da abertura do 3º Encontro de Comércio Exterior do Pará, realizada terça-feira à noite no Hotel Sagres, em Belém.

Evento internacional

O encontro prossegue até hoje, com uma série de palestras, painéis, apresentações de experiências e debates. Este ano o evento tornou-se internacional, com a participação, inclusive nos estandes montados à entrada do auditório, na chamada "Vila Internacional", com representantes dos Estados Unidos, Japão, Venezuela, Equador, Polônia, Portugal, Argentina, Emirados Árabes e Trinidad e Tobago.

Na abertura o diretor da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Edson Lupatini Júnior, confirmou que as exportações brasileiras deverão chegar a US$ 94 bilhões este ano, 1,3% das exportações mundiais, com a perspectiva de atingir a marca de US$ 100 bilhões em julho de 2005.

Maior valor agregado

O saldo comercial em 2004 deverá ficar em US$ 32 bilhões, com as importações atingindo a marca de US$ 62 bilhões.

Lupatini disse que existe uma tendência de diversificação da pauta de exportações do Brasil, mas ressaltou que ela precisa ter produtos com maior valor agregado. Ele informou ainda que entre 2000 e 2003, o número de empresas voltadas à exportação passou de 16.246 para 17.743 em todo o território nacional.

O presidente da Federação das Indústrias do Pará (Fiepa), Danilo Remor, também citou alguns números, destacando que o Pará ocupa hoje a nona posição entre os estados exportadores brasileiros, com um aumento de 44% em suas exportações nos primeiros nove meses de 2004, na comparação com o mesmo período de 2003, devendo chegar ao final do ano com um novo recorde, acima de US$ 3,6 bilhões, contribuindo com um saldo superavitário de 3,3 bilhões de dólares em divisas para o Brasil. Pelos últimos dados da Fiepa, os produtos minerais respondem por 77% das exportações paraenses.

Investimentos da Vale

José Lancaster informou que em 2004 a Vale está investindo, apenas na região de Carajás, no Pará, US$ 32,5 milhões em pesquisa com cobre, ouro, manganês e níquel, além de outros US$ 25 milhões em pesquisa mineral em outros países da América Latina, da África e da Ásia.

O diretor de não-ferrosos da Vale disse que nos cerca de US$ 5,5 bilhões de investimentos a serem feitos pela empresa no Pará até 2010, estão incluídos vários projetos de expansão, como as fases 4, 5, 6 e 7 da fábrica de alumina da Alunorte, em Barcarena, até 2009; o ferro de Carajás para 85 milhões de toneladas até 2006; e as fases II e III da bauxita de Paragominas em 2007 e 2009.

Entre os novos projetos ele destacou os de cobre (além do Sossego, que entrou em operação em junho deste ano, os do 118, do Alemão e do Salobo); a nova refinaria de alumina ABC, em Barcarena, em associação com os chineses; e o de níquel do Vermelho, que deve ser implantado em 2007.

Crescimento sustentável

Lancaster afirmou que o governo brasileiro está criando as bases para um crescimento sustentável e há um cenário internacional favorável beneficiando as exportações do País.

Há, segundo ele, uma recuperação da economia global e dos preços das commodities, tendo a China como grande destaque. Existe uma liquidez no mercado financeiro internacional, com maior acesso do governo e das empresas brasileiras ao crédito externo, culminando com a Vale emitindo um bônus de 30 dias, alongando o prazo de sua dívida. Isso ocorreu pela primeira vez com uma empresa brasileira.

Para José Lancaster, o setor privado tem que aproveitar esse momento favorável para alavancar suas vendas no mercado externo, quando há uma tributação menor sobre as exportações, ganhos de escala, câmbio depreciado e acesso a capital de menor custo.

Ele afirmou ainda que é preciso promover a expansão dos investimentos para o desenvolvimento do mercado interno e a capacidade de exportação, com foco em infra-estrutura, aumento da produção, inovação tecnológica, aumento de produtividade e de competitividade.

Fortalecer exportações

Dentro de sua estratégia de crescimento com o fortalecimento das exportações, José Lancaster disse que a Vale tem foco na redução de custos unitários de investimento e de operação; na exploração da economia de escala e de escopo; na distribuição de escritórios no mundo, dando suporte aos esforços comerciais e atuando como centros de atendimento ao consumidor; na internacionalização de pesquisa e produção; na formação de joint ventures com os principais clientes internacionais; na diversificação de produto e carteira de grandes projetos de capital; e no estabelecimento de contratos de longo prazo.

China

Boa parte da exposição do diretor da Vale foi ocupada com informações sobre a importância da China na recuperação da economia global e como fator chave para o crescimento do mercado mundial de commodities e bens minerais. A Vale tem intensificado seus negócios com os chineses.

Ele lembrou o exemplo do setor automobilístico, em que a General Motors coloca a China como o maior produtor de carro em 2005 e que no futuro esse veículo vai consumir duas vezes mais cobre do que consome hoje, uma boa perspectiva para as grandes reservas paraenses desse minério.

Atratitivdade

Outros dados em relação à China: o país consome 31% do carvão mineral, 29% dos produtos de aço, 28% do minério do ferro transoceânico, 19% do alumínio e cobre e 8% do petróleo no mundo. É também um país com atratividade para o capital estrangeiro. Enquanto num período de quatro a cinco anos os Estados Unidos atraíram US$ 1,4 trilhão, a China atraiu US$ 881 bilhões.

Já o Brasil capturou apenas um quarto do volume dos chineses. Em termos de Produto Interno Bruto (PIB), os americanos têm US$ 10,1 trilhões, os chineses US$ 5,7 trilhões e o Brasil apenas US$ 1,3 trilhão. Mas os chineses têm a maior taxa mundial de crescimento do PIB, com média nos últimos 20 anos de 9% ao ano. A China possui hoje o sexto maior fluxo de comércio internacional, com US$ 696 bilhões, com 61% do crescimento do consumo internacional.

kicker: Saldo comercial brasileiro em 2004 deverá ficar em US$ 32 bilhões