Título: Indústria reajusta preços para o Natal
Autor: Lucia Kassai
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/10/2004, Agribusiness, p. B-12

Alta de 80% dos preços do petróleo nos últimos 12 meses impactaram fretes e embalagens. Não vai faltar peru neste Natal, mas ele vai ficar mais caro. A Sadia S.A., uma das líderes do mercado, já anunciou que pretende aumentar seus preços em cerca de 10% até o final do ano. A alta não deve conter o consumo: a Sadia espera que o Natal de 2004 seja o melhor dos últimos três anos. Historicamente, o último trimestre é o de maior consumo de aves e de maior faturamento para a indústria de alimentos.

"Todas as indústrias que conheço promoveram reajustes de preços nos últimos dias", diz um executivo da Só Frango, empresa do Distrito Federal com forte atuação no Centro-Oeste. A própria empresa aumentou os preços nesta semana, porém não informou de quanto foi o reajuste. A Macedo Koerich, líder de vendas de aves em Santa Catarina, deve aumentar os preços em 5% até o final do ano. A Perdigão deve se reunir na próxima semana para definir a estratégia de preços para o final do ano.

Petróleo é o vilão

O grande vilão, de acordo com a indústria, é o aumento do petróleo, que subiu 80% nos últimos doze meses no mercado internacional. A alta do petróleo reflete no custo do frete e das embalagens. Na Sadia, o frete representa 12% do custo de produção e as embalagens, 20%, resultando em um impacto total de 32%. A alta dos preços da soja, no início do ano, também impactaram o setor, já que o farelo de soja é importante item na ração das aves.

"Infelizmente, vamos aumentar os preços - tivemos enorme pressão de custos neste ano, na comparação com o ano passado", disse Luiz Gonzaga Murat Júnior, diretor financeiro da Sadia, em entrevista à Bloomberg News e confirmada pela assessoria de imprensa da empresa. "Vamos subir os preços para proteger as margens de lucro dos nossos produtos". Em 2003, a Sadia lucrou R$ 447 milhões, o que representou crescimento de 90,8% em relação ao ano anterior.

A alta de preços, no entanto, não deve inibir o consumo, acredita Rodrigo Virmond, gerente de vendas de mercado interno da Macedo Koerich. "As vendas devem crescer 5% em relação ao ano passado", diz. "O consumidor não abre mão das aves no final do ano. No máximo, ele troca o peru pelo frango".

Apesar do reajuste de preços programado, a Sadia prevê que as vendas deste final de ano devem ser 10% maiores em relação ao último trimestre de 2003, quando a empresa faturou R$ 1,7 bilhão em três meses. Em 2003, as vendas do mercado interno representaram 55% do faturamento total da empresa, que foi de R$ 5,9 bilhões. De acordo com dados fornecidos pela empresa, a Sadia é líder nas vendas de perus e frangos, com participação de mercado de 72,5% e 12,5%, respectivamente, em 2002.

"O Banco Central quer conter o consumo, mas a esse ritmo há dúvidas se o impacto será tão rápido quanto o esperado", diz Maristella Ansnelli, economista do Banco Fibra. Anteontem, o BC elevou em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros do mercado para tentar desacelerar a inflação. Na ata da reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) referiu-se ao efeito potencial da escalada do petróleo bruto sobre os preços ao consumidor.

O aumento de 0,5 ponto percentual surpreendeu economistas, que previam uma alta de 0,25. A Selic foi elevada para 16,75% ao ano.

Para Maristella, a demanda do setor de alimentos e vestuário vinha recuperando o fraco desempenho registrado nos últimos meses. "Não acredito que os dois setores abortem essa tendência de crescimento".

Fábio Silveira, economista da MS Consult, não acredita que a alta dos juros impacte o consumo de alimentos. "As encomendas dos supermercados foram fechadas com muita antecedência, antes mesmo dos juros começarem a subir".