Título: Maranhão vira pólo siderúrgico
Autor: Franci Monteles
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/10/2004, Gazeta do Brasil, p. B-13

No momento em que a siderurgia mundial vive uma fase de expansão, o Maranhão é alvo de atração para abrigar grandes projetos siderúrgicos. Depois da chinesa Baosteel e da coreana Posco, é a vez da alemã ThissenKrupp demonstrar interesse em instalar uma planta siderúrgica no Estado, em São Luís, que já dispõe de uma área de 2.400 hectares próximo ao porto do Itaqui para abrigar o pólo siderúrgico, com capacidade para até três projetos de grande porte. Se confirmados, os três empreendimentos vão envolver investimentos iniciais que podem ultrapassar US$ 5 bilhões.

Até o final do mês está prevista a apresentação do estudo de viabilidade econômica e o relatório de impacto ambiental da planta da Baosteel em São Luís, segundo o secretário de estado da Indústria, Comércio e Turismo, Danilo Furtado. O passo seguinte será a assinatura de um protocolo final com obrigações e deveres das partes envolvidas ¿ governo e investidores.

O início das obras está previsto para os meses de maio e junho do próximo ano. A operação deve começar em janeiro de 2008, com uma produção inicial de quatro milhões de toneladas por ano. Na segunda fase, a produção deve saltar para sete milhões de toneladas por ano.

A localização geográfica estratégica, próximo aos mercados consumidores internacionais, proximidade da província mineral de Carajás (com uma das maiores jazidas do mundo) e as condições invejáveis dos portos que propiciam a atracação de navios de grande calado, aliadas ao trabalho de divulgação das potencialidades do Estado do governador José Reinaldo Tavares são alguns dos fatores que explicam as atenções das empresas estrangeiras para o Maranhão, conforme avalia o secretário Danilo Furtado.

"Existe todo um conjunto de vantagens que fazem do Maranhão o melhor lugar no mundo para a instalação desses investimentos. Nenhum outro lugar no mundo dispõe desses pré-requisitos, considerando o custo final para os investidores", observa o secretário, ressaltando que estudos de viabilidade para a instalação de siderúrgicas foram feitos também em outras partes do mundo, entre elas, Trinidad Tobago, mas a conclusão apontou o Estado como o melhor resultado econômico.

Com exceção da Baosteel, os outros dois grupos - Posco e Thissen - mantiveram contato até o momento apenas com a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), que segundo Furtado, tem sido uma grande indutora dos negócios destinados ao Estado no setor siderúrgico.

O governo tomou conhecimento do interesse da sul-coreana Posco e da alemã ThissenKrupp por meio da imprensa nacional e internacional. O interesse do terceiro grupo em instalar uma siderúrgica no Maranhão foi confirmado pelo presidente executivo da empresa, Ekkehard Schulz, durante entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, na semana passada, e é visto com entusiasmo pelo governo do estado. "Nos surpreende um pouco o fato de que o pólo siderúrgico de São Luís nasce com a concepção para produzir placas de aço, e a Thissen fala em produzir laminados, o que é melhor ainda, pois vai começar com um produto que agrega valor", avalia o secretário.

O empreendimento alemão deve ser feito em parceria com a CVRD e visa produzir cinco milhões de laminados de aço por ano. A produção será voltada principalmente para o Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta) e para uso em pequenas siderúrgicas da própria empresa, de acordo com o jornal alemão. Os investimentos são da ordem de U$ 2,4 bilhões. O projeto da Posco, segundo Danilo Furtado, é semelhante ao da Baosteel em termos de tamanho (quantidade) e destina-se também à fabricação de placas de aço.

Na fase de implantação só da Baosteel, está previsto um pico de geração de 14 mil empregos e 2,5 mil empregos diretos na fase de operação. As discussões sobre o planta da siderúrgica chinesa no Maranhão foram iniciadas há cerca de dois anos.

Em janeiro, o governador José Reinaldo Tavares foi a Xangai, e em maio fez parte da comitiva do presidente Luís Inácio Lula da Silva à China, onde reuniu-se com representantes da siderúrgica. Danilo Furtado, que acompanhou o governador, lembra que o presidente Lula, na ocasião, manifestou apoio ao projeto e o posicionou como sendo estratégico não só para o Maranhão, mas também para o Brasil.

Caso venham a se concretizar as três plantas siderúrgicas para a produção de placas de aço, conforme apontam os estudos, calcula-se divisas no valor de US$ 500 milhões por ano por ocasião das exportações, o equivalente a 80% das exportações maranhenses, hoje.

"É quase o dobro das exportações, para se ter uma idéia do impacto que uma planta siderúrgica produzirá no nosso estado", destaca Danilo Furtado.

O Complexo Portuário de São Luís ¿ que envolve os portos privados da Alumar e Terminal Marítimo de Ponta da Madeira, de propriedade da CVRD, e o do Itaqui ¿ permite atracar navios com calado de até 23 metros. O Maranhão é servido ainda pelos modais de rodovias e ferrovias (Norte-Sul e Estrada de Ferro Carajás). Além da profundidade, o complexo possui as menores milhas náuticas em relação aos mercados europeu, norte-americano e asiático, o que confere vantagem competitiva, quando comparado a outros portos existentes no País.