Título: Prazo para acordo com UE não será cumprido, afirma Dimarzio
Autor: Agnaldo Brito - Colaborou Claudia Mancini
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/08/2004, Internacional, p. A-10

O secretário- executivo do ministério da Agricultura, José Amauri Dimarzio, afirmou ontem que o Mercosul dificilmente conseguirá fechar um acordo comercial com a União Européia (UE) até outubro, como prevê o cronograma atual das negociações. E que a falta de um acordo sobre questões agrícolas com os Estados Unidos já inviabilizou a proposta de iniciar a implantação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) em janeiro de 2005. Segundo ele, um novo prazo poderia ser o início de 2006.

Dimarzio reafirmou a disposição dos negociadores brasileiros de não avançar mais nas discussões sobre ofertas de bens industriais e serviços, sem antes alinhavar um acordo para o agronegócio, tanto na Alca, quanto na negociação Mercosul/UE. "O agronegócio é a nossa arma. E é com ela que vamos negociar bem as outras coisas", afirmou no seminário "Negociações Internacionais, o Maior Risco é Não Conhecer", promovido pela Câmara Americana de Comércio (Amcham) de Campinas.

As dificuldades em obter melhores ofertas em agricultura nas negociações com os EUA e com a UE deverão ser superadas, disse. Segundo ele, o ônus de não se fechar o acordo da Alca é maior para os norte-americanos do que para o Brasil. Para Dimarzio, a estratégia dos EUA de apostar em acordos bilaterais no continente se deve a um interesse de Washington em abrir mercados, e também é uma tentativa de enfraquecer o Brasil na negociação da Alca - para forçar o País a fechar o acordo. Mas, na análise do ministério, uma demora na Alca incentiva o Brasil a fazer outros acordos, como o com a UE e com China. Esta última estaria interessada em investir na agricultura brasileira, completou. De acordo com o co-presidente da negociação da Alca, o embaixador Adhemar Bahadian, não está marcada nenhuma data para a retomada das negociações do acordo hemisférico, que estão emperradas.

Com a UE, o Brasil e os demais sócios do Mercosul voltam à mesa de negociação em setembro, em Bruxelas. As dificuldades com o bloco europeu, que nos 12 meses encerrados em junho importou do Brasil US$ 12,8 bilhões, 22,13% a mais que no período anterior, incluem a metodologia de negociação (se discute-se as ofertas em partes ou de forma geral, como quer o Brasil) e administração das cotas.

Independente de um acordo, o Brasil acredita que conseguirá elevar a exportação para a UE em US$ 2,5 bilhões em dois anos. As recentes vitórias na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre subsídios ao algodão e ao açúcar dados pelos países ricos estão entre as razões para isso. Com a Alca, o ministério prevê que o agronegócio brasileiro aumentaria em US$ 10 bilhões as vendas no continente. De julho de 2003 a junho de 2004, o Brasil exportou para estes países US$ 8,6 bilhões, 18,95% sobre o período imediatamente anterior.