Título: A Infraero só ajuda a Varig se a Fundação Ruben Berta se afastar
Autor: Daniele Carvalho
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/08/2004, Transporte & Logistíca, p. A-14

O presidente da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), Carlos Wilson Campos, disse ontem, no Rio, que o órgão está disposto a participar do projeto de saneamento financeiro da Viação Aérea Rio Grandense (Varig), mas ressaltou que para o sucesso da estratégia seria necessário o afastamento da Fundação Ruben Berta da direção da companhia aérea.

"É bom que a Fundação Ruben Berta entenda que já cumpriu seu papel na condução da empresa. Quem vai querer comprar a Varig tendo a fundação Ruben Berta como controladora? Quem deixa um rombo de R$ 6 bilhões não demonstra eficiência administrativa", comentou Campos.

O governo federal estuda um plano para salvar a companhia da liquidação por parte de seus inúmeros credores - muitos deles pertencentes ao próprio governo. Uma das propostas seria a transformação da dívida em participação acionária na Varig. A partir dai, seria criada uma nova empresa, que já está sendo chamada de "Super Varig".

Passivo acumulado

Somente com a União e com o INSS, a empresa acumula passivo de cerca de US$ 1 bilhão e, com so demais credores - como BR Distribuidora, Banco do Brasil, GE e Boeing -, aproximadamente US$ 600 milhões.

"As discussões têm se intensificado. O problema precisa ser resolvido o mais rápido possível. A Infraero admite participar desta nova empresa contribuindo com os créditos que tem junto á Varig, o equivalente a uma dívida de R$ 300 milhões", diz Campos. Atualmente, a empresa está pagando em dia à Infraero, o montante deve-se a atrasos do passado. Campos diz que com este passivo, a Infraero seria proprietária de quase um terço da "Super Varig".

Lucro insuficiente

Ele comentou , ainda, que a Varig apresentou lucro de R$ 180 milhões no semestre, o que não foi suficiente para quitar, nem mesmo, uma parte da dívida. "Por isso a urgência na solução do caso", defende o presidente da empresa estatal.

Quanto ao questionamento de que a estratégia seria a estatização da Varig, o executivo comentou: "ela (Varig) já está praticamente estatizada, porque quem está sustentando a empresa é o próprio governo".

De acordo com Campos, a idéia central do governo é sanear a empresa para depois vendê-la a um grupo privado. "Só assim, os investidores privados se interessariam pela companhia, vendo-a como um bom negócio", acrescenta.

No rol de devedoras da Infraero, a Varig não tem exclusividade. A Vasp é a companhia com o maior passivo junto ao órgão, com cerca de R$ 500 milhões em atraso. Junta-se também ao grupo a TAM que, segundo Carlos Wilson Campos, tem honrado pontualmente o parcelamento de seu débito. Ao todo, a Infraero é credora de uma dívida de aproximadamente R$ 1,3 bilhão. Procuradas por este jornal, a Varig e a Fundação Ruben Berta disseram que não se pronunciarão até que haja uma proposta oficial do governo.