Título: Exportações devem triplicar em dez anos
Autor: João Mathias
Fonte: Gazeta Mercantil, 25/10/2004, Panorama Setorial, p. A-10

Desvalorização do câmbio, aumento da produção e do consumo mundial estimulam comércio. Tradicionalmente, o setor brasileiro do milho é voltado para o mercado interno. Contudo, com a desvalorização do câmbio e o acentuado aumento da produção nacional, as exportações do grão ganharam força e devem ser triplicadas em dez anos. De módicos volumes na década de 90, projeções indicam que um total de 18,6 milhões de toneladas na safra 2012/13 será exportado, de acordo com a consultoria Céleres, de Uberlândia (MG).

Entre os fatores que devem colaborar para o incremento das remessas nacionais, inclui a previsão de mudanças nos mercados chinês e norte-americano. Com o vigoroso crescimento econômico interno, a expectativa do setor é de a China passar, nos próximos anos, de exportador para importador de milho para atender ao consumo local. Os Estados Unidos, por sua vez, devem aumentar a necessidade do grão para suprir a produção de etanol e, com isso, reduzir sua participação no comércio internacional.

Outro fator de impulso para o salto projetado para as exportações brasileiras é a perspectiva de expansão do consumo de proteína animal no mundo. O milho é o principal alimento para as criações de animais, sobretudo de aves e de suínos.

Com o registro de expansão dos embarques, desponta-se uma nova dinâmica do mercado nacional do milho. "Além da contribuição para a receita de divisas e para a melhoria da posição do Brasil no ranking mundial dos países exportadores de produtos agropecuários, a inserção do milho no mercado internacional implica maior sustentação econômica do produtor, tal como ocorre com a soja, que desfruta de ampla liquidez e previsibilidade, devido à competitividade no mercado internacional", segundo informa o Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo.

A tendência é de a cadeia produtiva do milho no Brasil tornar-se mais coordenada, segundo Leonardo Sologuren, sócio-diretor da Céleres. O incremento das exportações "leva o setor a ter uma visão de futuro e a utilizar mecanismos semelhantes aos utilizados pelo mercado da soja". As grandes companhias passam a realizar compras antecipadas e dão estímulos ao produtor, que busca mais competitividade por meio da tecnificação e da profissionalização da atividade.

A ausência de um relacionamento mais integrado entre produtor de milho, criador de aves e de suínos e a indústria processadora dificulta a cadência do setor. "Ainda não há articulação na cadeia produtiva", diz Carlos Eduardo Tavares, economista da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Para Tavares, o setor do milho pode ser remodelado com a utilização de mecanismos de proteção de preços ao produtor, como operações de mercado futuro.

Especialistas do setor consideram que a nova dinâmica do mercado deve ocorrer de médio a longo prazo. No entanto, o Brasil já tem a seu favor sua competitiva agricultura, a qual não depende de subsídios para se expandir no mercado internacional, prática que ocorre em vários países do mundo. O País registra baixo custo marginal, tem terra barata e escala de produção.As mudanças no comércio exterior do milho ocorreram a partir da safra 2000/01, quando o setor agrícola reverteu seu histórico de importador e foi em busca de divisas no mercado externo. O aumento do volume estimulado pelos preços melhores no ano anterior colaborou, naquele período, para a abertura da fronteira internacional para os embarques do milho do Brasil. Em 2001, destacavam-se as exportações iniciadas pelas cooperativas do Paraná. A Coamo Agroindustrial Cooperativa, por exemplo, foi, no início de 2001, uma das pioneiras nas exportações, com embarques de 80 mil toneladas para a Espanha.

A perspectiva favorável para o cereal nacional também tem como base o que se vislumbra para o mercado internacional agrícola. Projeções do setor indicam que o milho será o principal e o mais importante cultivo de grãos no mundo até 2020. E, de acordo com previsão da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), o Brasil deverá se tornar o maior produtor mundial de alimentos na próxima década.

Dificuldades antigas

Baixa produtividade e ausência de dinamismo já emperraram a expansão do mercado do milho no comércio exterior. Na década de 70, o Brasil não aproveitou a oportunidade de impulsionar os embarques do cereal. Estudo do IEA, divulgado naquele período, indicava uma combinação do recuo das vendas dos Estados Unidos, o principal produtor e exportador mundial, com a crescente necessidade do produto em alguns países industrializadores da Europa e da Ásia. O cereal norte-americano, que estava passando por alterações na qualidade, era recusado por importadores habituais, como União Soviética e Itália, cujos países estavam ampliando as compras do Brasil e da Argentina.

A cadeia produtiva do milho no País visa a atender principalmente o mercado de proteína animal. Mais de 60% da demanda do cereal refere-se ao consumo realizado pela criação de aves e de suínos, cujos segmentos da agroindústria da carne estão em uma trajetória crescente de produção. O cereal também é matéria-prima para a indústria de alimentos para consumo humano, como fubá, cereais e canjicas, além de ser ingrediente para a fabricação de margarinas, de cervejas, de refrigerantes, de doces e até de plástico vegetal, fibra têxtil, antibióticos, entre outros produtos.

O milho responde por 35,33% da produção de 119,3 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosa em todo o Brasil. Os dados fazem parte do sexto levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Após uma fase de expansão, estimativas indicam que a produção de milho recuou para 42,15 milhões de toneladas na safra 2003/04. O volume significou uma queda de 11% em relação ao total de 47,41 milhões de toneladas registradas na safra anterior. Em igual período, as plantações do grão, somadas as áreas da primeira e da segunda safra do cereal, apresentaram retração de 3,1%.