Título: Programa estimula venda de produto sustentável
Autor: Raimundo José P
Fonte: Gazeta Mercantil, 25/10/2004, Gazeta do Brasil, p. B-13

O Sistema Poema - Pobreza e Meio Ambiente na Amazônia - um programa da Universidade Federal do Pará, aproveitou um seminário em Belém para discutir e abrir mercados para produtos sustentáveis da região e fazer o lançamento de uma nova linha de produtos de papel artesanal 100% natural, que se enquadra exatamente dentro dessa proposta. São luminárias de protopapel, com a utilização do Amazon Paper, feito com fibras naturais batidas manualmente.

As luminárias Amazon Paper fazem parte de uma exposição montada no hall de entrada do hotel onde está sendo realizado o seminário "Bolsa Amazônia e os mercados para negócios sustentáveis: quem compra, quem paga e quem ganha?".

Estão expostos diversos produtos da biodiversidade amazônica, não só do Brasil mas também dos demais países amazônicos, como Equador, Bolívia, Colômbia e Peru. Essas luminárias têm as linhas Rústica e Clássica, confeccionadas com vidros, sementes, talas, bambus e cipós os mais variados, em papéis texturizados de distintas cores e fibras e têm como base principal a fibra do curauá, uma planta rústica da Amazônia, bastante resistente e que já está sendo utilizada inclusive na fabricação de algumas peças de automóveis.

O seminário, que prossegue até hoje, está sendo promovido pelo programa regional Bolsa Amazônia, que é a primeira rede de instituições da sociedade civil amazônica dedicada a fomentar a geração de emprego, ocupação e renda da região através do uso agroindustrial dos recursos naturais e acesso a mercados de produtos amazônicos sustentáveis. Há três anos o Bolsa Amazônia procura estabelecer pontes entre os produtos da biodiversidade regional e os mercados em potencial para esses produtos. O seminário é promovido também pela Organização de Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).

Nazaré Imbiriba, secretária geral da Bolsa Amazônica e uma entusiasma do Amazon Paper, disse que esses produtos já estão sendo introduzidos no mercado paulista e começando a entrar também na Alemanha e nos Estados Unidos, principalmente os produtos de papelaria e as luminárias. "Mas ainda estamos identificando os nichos de mercado. Precisamos ter competitividade para isso. É preciso quantidade, qualidade e regularidade na entrega", afirmou Imbiriba.

Segundo Nazaré Imbiriba, um dos objetivos do seminário é construir novas alianças entre as experiências produtivas de todos os países amazônicos. "O produto pode ser bom, mas para que possa gerar renda para as comunidades rurais que os produzem precisa de mercado, seja local, nacional ou internacional. Estamos aqui para discutir quais são os nossos desafios para que possamos superá-los".

A secretária do Bolsa Amazônia disse ainda que cada vez mais se abre o mercado para esses produtos da biodiversidade. "Nos países desenvolvidos há um processo cada vez maior de substituição de insumos sintéticos por naturais. Há um aumento do número de consumidores que se preocupa se o produto é orgânico, é ambientalmente saudável".

Ela reconhece que ainda existe uma grande dificuldade para atingir o mercado consumidor para esse tipo de produto. Mas lembra que até há alguns anos a região sul do Brasil não sabia o que era o açaí. E hoje esse produto natural da Amazônia conquistou não apenas o Brasil, mas outros países, como os Estados Unidos. No seminário procura-se atrair mais parceiros envolvidos com a execução e financiamento dos mecanismos de promoção de negócios sustentáveis para que se possa exatamente ampliar a oferta desses produtos.

Mercado mundial

Alain Lambert, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), informou que o mercado mundial para os produtos da biodiversidade significa algo entre US$ 40 bilhões e US$ 60 bilhões. Ao detalhar as propostas do seminário, ele disse que existem três tipos de mercados para os produtos da biodiversidade amazônica. Um deles é o já existente, como o da polpa do açaí. O outro é para produtos como o camu-camu, o chocolate do cupuaçu (cupulate) e os óleos vegetais, que têm potencial para ainda não são conhecidos suficientemente no exterior. E o mercado mais complicado é que ainda precisa ser criado.

Ele afirmou que existem igualmente três tipos de vendedores desses produtos. Um é o chamado produtor de subsistência, que coleta na floresta alguns produtos para sobreviver e que vende uma pequena parte que sobra. O outro é o produtor diversificado, que coleta o que necessita mas que planta alguma coisa para obter mais produtos. E tem aquele que maneja o ecossistema para ter um valor agregado na floresta.

Quanto ao comprador, também existem três: os que fazem do ato um compromisso com o social, os que querem ganhar o máximo que puderem com os produtos sustentáveis e os que compram simplesmente porque o produto é bom e tem preço interessante. Lambert diz que o comércio sustentável não será possível se não existir apoio de infra-estrutura e de serviços.

kicker: Papéis, luminárias e estofados são feitos sem agredir a floresta