Título: Os frutos do marketing
Autor: João Carlos Basílio da Silva
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/08/2004, Opinião, p. A-3

Muitas verdades ficarão escondidas por trás do discurso. O Brasil está passando por transformações importantes - temos novos governantes, novas tecnologias, novos conceitos entrando em vigor a cada dia. Como parte mais que integrante da sociedade, nós, os industriais, também chamados agentes econômicos, estamos constantemente nos adaptando e nos moldando ao que se exige de nós. Mas, como em tudo na vida, é preciso a todos nós saber discernir entre o que é bom e o que não é. Isso depende estritamente de ponto de vista de cada um, de quanto isso lhe é ou não conveniente. Desde a constatação de que o papel aceita tudo, tudo pode ser dito de bom ou de ruim de uma determinada pessoa ou coisa. Vamos então a exemplos de como se pode distorcer uma situação. Agora mesmo, nas eleições municipais, muitas verdades ficarão escondidas por trás de discursos pomposos. Afinal, é natural: qual candidato sem qualidades e até com graves defeitos teria coragem de denunciá-los no horário eleitoral gratuito? Seria interessante ver isso, mas se houvesse essa autocrítica tão acentuada certamente não haveria a própria candidatura do cidadão. Isso não é privilégio da política. Falar bem de si e mal dos outros e criticar sem nunca ter vivenciado determinadas situações são comuns em muitos processos eleitorais, seja no meio estudantil, nos sindicatos de trabalhadores ou nas entidades patronais. Desde as eleições entre Carlos Eduardo Moreira Ferreira e Emerson Kapaz, a Fiesp e o Ciesp não viviam um embate tão eloqüente entre duas chapas. Virou uma batalha, cujas armas nem sempre refletem as verdades. Neste momento, por exemplo, há quem fale em renovação mesmo estando há dezenas de anos na militância empresarial e tendo como pares figuras mais que conhecidas nesse mesmo cenário. A afirmação soa falsa sob qualquer ângulo. Basta aos mais atentos puxar um pouco pela memória para lembrar que esses arautos da boa nova, ou interlocutores da renovação, já estiveram na ribalta lá atrás. A crítica pela crítica pode estar, na verdade, revelando ódios guardados, coisas que se está remoendo há anos, espíritos de vingança, mágoas do passado. Quando se pensa com ódio certamente se fala e se escreve coisas que não encontram respaldo na realidade. O passo seguinte, no momento dois, é certamente o arrependimento. É bom pensar sobre isso, pois sem essa reflexão mais tarde poderá ser tarde demais. A grande verdade é que a sociedade está cansada de falsos profetas, de milagreiros, de aventureiros que, no grito e aos trancos e barrancos, tentam resolver tudo. A sociedade quer a certeza e o equilíbrio, pois já provou no passado quanto dói o experimento da novidade pura e simples, mas sem conteúdo. Não nos podemos levar, seja na escolha de um líder político, seja na escolha de um síndico, pelo marketing. Para a casa da Indústria Paulista (sim, em letras maiúsculas) seria um desastre enorme permitir dissociar a liderança da Fiesp da do Ciesp. Se a base está pedindo e votando num candidato, por que então querer remar contra a maré, apostar no desconhecido? Se com a base das indústrias representada em pesquisa por percentuais esmagadores estão as principais lideranças da Indústria Paulista, homens que forjaram todo esse parque, essa legislação, essa conjuntura em que vivemos e que tanto ajudou nosso país, por que de uma hora para outra passar a acreditar em pessoas até de outros estados e com visão absolutamente distorcida em relação à nossa realidade? O falar mal pura e simples, como disse, é fácil. A crítica deste ou daquele gênero administrativo também, sobretudo quando não se está vivenciando a situação. Só se esquece, o mau crítico, que a realidade exige experiência, coerência, ponderação e equilíbrio. Tomara que todos nós, Industriais Paulistas (também em maiúsculas), nos lembremos disso no dia 25 e possamos votar com a razão e a competência que levaram São Paulo a responder por 40% da produção industrial nacional.