Título: O turismo em estrada deteriorada
Autor: Claudio Taboada
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/08/2004, Opinião, p. A-3

Não há como negar a boa intenção do governo federal com a concepção do Plano Nacional do Turismo, principal projeto do Ministério do Turismo. O plano tem objetivos que merecem destaque, como a criação de roteiros alternativos. A criação do Programa de Regionalização do Turismo/Roteiros do Brasil seria uma ótima iniciativa, se os princípios básicos para sua implantação fossem também colocados na pauta de prioridades. Um deles é a recuperação das rodovias federais que, no estado em que se encontram, dificultam o processo de interiorização e regionalização do turismo. A Bahia, que hoje ocupa o posto do terceiro destino mais visitado do País, é um dos estados que mais sofrem com esse descaso. As estradas que cortam o estado estão em condições calamitosas. Esse descuido não é de hoje. Há quase dez anos não é feita manutenção adequada nas rodovias federais em território baiano. As péssimas condições das estradas são motivos de diversas manifestações pelas BRs. A última, no dia 12 de julho, foi organizada por profissionais de turismo das cidades de Lençóis, Andaraí e Mucugê, na Chapada Diamantina, que bloquearam a BR-242 por mais de três horas. Completamente esburacada, a estrada é um risco para os turistas. A região de Lençóis, por exemplo, recebia cerca de 32 mil turistas por ano e há um ano e meio apresenta queda de 40% no número de visitantes. Além dos prejuízos ao ramo hoteleiro e de entretenimento de Lençóis - o turismo movimenta cerca de 85% da economia do município -, os manifestantes aproveitaram para chamar a atenção para os perigos causados pelos buracos espalhados pela BR-242: alto número de acidentes (alguns deles com vítimas fatais) e assaltos a turistas e a ônibus que trafegam pela via. O mesmo problema é enfrentado por aqueles que tentam trafegar na BR-101, com trechos intransitáveis na Bahia. De Porto Seguro a Mucuri, por exemplo, com 360 quilômetros, leva-se mais de seis horas para fazer o trajeto. Para piorar a situação, o estado precário das estradas federais está sobrecarregando as estaduais, pois muitos motoristas passaram a optar por elas. Os danos causados por essa mudança de rota, tanto de caminhoneiros como turistas, ou até de próprios moradores, obrigaram o governo da Bahia a investir na recuperação das estradas estaduais. Iniciado em março de 2003, a pacote assinado pelo governador Paulo Souto prevê a restauração e manutenção das 32 estradas e pontes estaduais espalhadas por todas as regiões do estado, totalizando cerca de 700 quilômetros de extensão. Os recursos da recuperação, no valor de R$ 80 milhões, são provenientes do Tesouro Estadual e da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), taxa cobrada sobre os combustíveis. O governo federal não aportou recurso novo para as obras, mas editou uma medida provisória que permite a antecipação da transferência dos recursos da Cide para os estados. Apesar de o recurso não ser suficiente para o tamanho e a intensidade do problema, ele nos dá a possibilidade de começarmos esse trabalho de recuperação que é tão urgentemente pedido pelas pessoas que trafegam pela Bahia. Durante a apresentação do programa de regionalização, em abril deste ano, fiz questão de situar o presidente Lula sobre a participação mais efetiva do governo na questão dos cuidados com as rodovias federais, em especial na Bahia. Essa infeliz situação das estradas federais atrapalha, e muito, o desenvolvimento do nosso turismo, até porque a regionalização não é novidade na Bahia. Desde a década de 80, o estado possui esse diferencial, quando foi dividido em nove zonas turísticas (Costa dos Coqueiros, Baía de Todos os Santos/Recôncavo, Costa do Dendê, Costa do Cacau, Costa do Descobrimento, Costa das Baleias, Chapada Diamantina, Chapada Norte e Lagos do São Francisco). A diversificação de roteiros também contribuiu para o sucesso da Bahia no turismo, que é tratado com profissionalismo e inovação, já que é uma importante atividade econômica para o estado. Resultado de uma série de fatores que inclui um planejamento de 12 anos para o setor e que foi cumprido rigorosamente pelos governos baianos. Hoje já temos 11 vôos por semana ligando Salvador a Madri e Lisboa. Esse planejamento estratégico combinou também com a melhoria da infra-estrutura e a valorização da cultura local. Com isso, a Bahia conseguiu dobrar o número de turistas em dez anos. Só em 2003 foram aproximadamente 4,7 milhões de visitantes - e 21,3% do total de estrangeiros que chegaram ao País, ficando atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. Como uma das principais metas do governo federal é a regionalização do turismo, esperamos que mostre comprometimento com a situação das rodovias, pois só assim os turistas poderão aproveitar a grande quantidade de opções de lazer e a ampla variedade de cenários naturais, não só da Bahia como do País inteiro.