Título: Em meio aos destroços, corpos
Autor: Luiz, Edson ; Álvares, Débora
Fonte: Correio Braziliense, 05/04/2011, Brasil, p. 10

As autoridades francesas confirmaram ontem que, além dos destroços do Airbus A330 da Air France encontrados no fundo do Oceano Atlântico, no domingo, há corpos de vítimas no local. O anúncio foi feito em Paris pela ministra da Ecologia e Transportes, Nathalie Kosciusko-Morizet. Ela calculou que, em no máximo um mês, o material encontrado começará a ser resgatado. O aparecimento de partes do avião, desaparecido em maio de 2009, fortalece a possibilidade de serem encontradas as duas caixas-pretas, o que ajudaria a esclarecer os motivos da queda do aparelho na rota Rio de Janeiro-Paris.

Os pedaços da fuselagem do Airbus foram encontrados no domingo, mas a confirmação da existência de corpos ocorreu ontem, quando a ministra francesa, acompanhada de representantes do Bureau de Investigações e Análises (BEA, sigla em francês), concedeu uma entrevista para mostrar imagens dos destroços encontrados, como uma turbina e o trem de pouso, ambos praticamente sem grandes avarias. Nathalie observou que há a possibilidade de os corpos serem identificados, mas não se manifestou quanto ao número de vítimas.

Conforme a ministra, está aberta uma licitação para montar as operações de resgate dos destroços do avião e dos corpos das vítimas do fundo do oceano. ¿A fase para trazer à tona o avião poderá ser iniciada daqui a três semanas a um mês, assim como a recuperação dos corpos¿, explicou Nathalie. O chefe da BEA, Jean-Paul Trodec, ressaltou que a localização dos destroços é um caminho para que o acidente ¿ ocorrido em 31 de maio de 2009 e que resultou na morte de 228 pessoas ¿ seja esclarecido. ¿Existe a esperança de que poderemos encontrar uma explicação para o que aconteceu¿, disse Trodec, referindo-se às duas caixas-pretas.

Se encontradas, as caixas-pretas do Airbus poderão esclarecer a suspeita de que houve falhas nas sondas de velocidade Pitot, que teriam sido congeladas no momento em que a aeronave atravessava uma tempestade. Segundo o diretor do BEA, o equipamento ¿ obrigatório em todos os aviões ¿ vai permitir a verificação dos parâmetros de voo e as conversas dos pilotos.

Segundo o jornal francês Le Monde, a nova fase de buscas custará entre 5 e 6 milhões de euros e, até agora, já foram gastos em torno de 21,6 milhões de euros nas operações de busca de destroços e resgate de corpos. De acordo com o Le Figaro, as primeiras fotos enviadas pelo navio Alucia mostram pedaços do avião e corpos a uma profundidade de mais de quatro mil metros. A pressão e a temperatura da água podem ter ajudado a conservar os restos mortais. A publicação revela ainda que os responsáveis pelas investigações cogitam o uso de técnicas especiais para fazer o içamento e novos meios para facilitar a identificação das vítimas. ¿Trazer os corpos de uma profundidade tão grande após dois anos de permanência na água sem destruí-los e evitando a corrosão (das peças encontradas) nas águas mais quentes da superfície será importante para o resgate¿, afirmou uma fonte próxima aos responsáveis pelas investigações.

Ajuda de robôs A fuselagem do Airbus foi encontrada por robôs submarinos do modelo Remus ¿ dois da fundação americana Waitt e um do instituto alemão Geomar ¿ , que também conseguiram fazer imagens dos escombros. As autoridades francesas não explicaram de que forma conseguiram localizar os corpos, que estariam em uma faixa de 10.000 quilômetros quadrados, próximo a Fernando de Noronha, onde os submarinos não tripulados fizeram a varredura. A operação do fim de semana foi a quarta etapa da tentativa de se acharem os destroços da aeronave. A primeira fase ocorreu poucos dias depois do acidente, quando a cauda do avião e os corpos de 50 vítimas foram resgatados (veja a arte).

O governo brasileiro não deverá tomar parte da retirada dos destroços e corpos, apesar de o material estar na costa do país. Pela legislação internacional, cabe à nação de origem da aeronave acidentada fazer o resgate. Em maio, a Força Aérea Brasileira (FAB) e a Marinha auxiliaram no resgate aos corpos de 50 vítimas do voo 447.

22 horas submersos Os três robôs têm cerca de 800kg e medem cerca de quatro metros. Podem ficar por até 22 horas submersos e são operados de uma central que fica em um navio. Eles foram equipados com câmeras, cujas imagens são lançadas para a embarcação. Apesar de o equipamento ter condições de içar o material encontrado, as autoridades francesas planejam adotar outros mecanismos de resgate dos destroços do avião e dos corpos das vítimas.