Título: "Temos de estar presentes nas áreas estratégicas"
Autor: Lívia Ferrari
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/08/2004, Primeira Página, p. A-1

O Brasil não pode se tornar um centro de custos. O presidente do BNDES, Carlos Lessa, em entrevista a este jornal, disse estar "muito preocupado" com investimentos estrangeiros ligados a matérias-primas e metalurgia (mineração e siderurgia), que, em seu entender, tendam a converter o Brasil em centro de custos. "Isso nos preocupa muito. Esses setores têm de ter a presença do capital nacional. Não podem ser totalmente dominados por interesses externos, que podem perfeitamente se articular e transferir potencialidades nacionais para fora do País", afirma.

Preventivo, o banco tem definido um modelo de atuação para financiar setores considerados estratégicos. Nesses casos, o BNDES, necessariamente, entrará como sócio do projeto, com poderes de veto. "Não entramos em nenhuma parceria dessas em posição ridícula. O BNDES se recusa o papel de ser sócio minoritário passivo nesses negócios. Não quer dizer que o banco será sócio majoritário, mas queremos acordos de acionistas que garantam que empresas estrangeiras não convertam o Brasil em centro de custos das suas cadeias negociais. Estamos dispostos a financiar e ser minoritários vigilantes dos interesses nacionais. Esse modelo vale para setores onde se fizer necessário", avisa Lessa.

Nunca a longa experiência de professor universitário de economia brasileira foi tão útil para o exercício da função de banqueiro. Ele rebate energicamente "teses equivocadas e mal intencionadas" daqueles que o consideram avesso ao capital estrangeiro.

"A tentativa de me converter num xenófobo, que procura discriminar a empresa estrangeira, é uma luva que não aceito de maneira nenhuma. Se aceitasse, deveria estar internado, porque, como professor de economia brasileira, sou capaz de diferenciar com precisão a contribuição positiva que o capital estrangeiro nos deu, da mesma forma que sou capaz de identificar o que é joio nesse processo", disse ele.