Título: Erro de leitura do Copom
Autor: Klaus Kleber
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/10/2004, Opinião, p. A-3

Insistência em uma política de arrocho vai prejudicar 2005. A elevação dos juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na semana passada não provocou uma reação tão indignada dos empresários, como se esperava, embora a taxa básica tenha sido aumentada em 0,50 e não 0,25 ponto percentual como todo o mercado previa. Em parte, isso pode ser explicado por uma espécie de trégua entre os líderes da indústria e o governo. Outra explicação para a atitude moderada dos empresários é de natureza sazonal. Neste período do ano, o movimento de vendas é tradicionalmente bom e este ano promete ser ainda melhor. Ninguém espera que o aumento de juro seja capaz de atrapalhar este Natal.

Essa complacência não significa que os empresários não estejam preocupados com o que vem por aí. A decisão do Copom mostrou que, apesar do comportamento melhor que se esperava dos índices de preços, a fixação com a inflação continua a governar o BC. Em certo sentido, a elevação da Selic para 16,75% pode ser preventiva, já que o último reajuste dos preços dos combustíveis apenas abriu uma seqüência, a ser retomada depois do segundo turno. Mas o pior é que o BC continua convencido de que a demanda está muito aquecida.

Esse é um grave erro de percepção, no entender de empresários. A recuperação do poder de compra, conseqüência da melhoria do emprego, foi mais intensa no segundo trimestre e em parte do terceiro. Já a partir de setembro a demanda arrefeceu e hoje está em níveis razoáveis, descontados os efeitos sazonais. Os técnicos do BC estariam fazendo uma leitura atrasada dos dados sobre o desempenho da economia.

Se o Copom insistir em uma política de arrocho, buscando cumprir, rigorosamente, a meta de inflação de 4,5% em 2005, culpando mais a demanda do que os preços administrados, a atividade econômica perderá o pique. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, se chegar a 4,56%, como projeta o relatório de mercado (Focus), ontem divulgado, será o melhor desde 1994. A inflação também não foge da raia, se ficar em 7,18% em 2004, como está também no Focus. A meta é de 5,5%, mas, se levada em conta a margem de erro de dois pontos percentuais (para cima ou para baixo), o governo poderá cantar vitória. O duro será dar continuidade ao crescimento, a persistir a atual política do BC.

kicker: Aumento da Selic mostrou que a fixação com a inflação continua a governar o BC