Título: Kerry: Bush agiu de forma cruel
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Fonte: Gazeta Mercantil, 26/10/2004, Internacional, p. A-10
O candidato democrata à Casa Branca, John Kerry, e o ex-presidente Bill Clinton, também democrata, ficaram ombro a ombro ontem para propor uma mudança de rumo no Iraque e a eleição de um governo que lute pela classe média norte-americana. Mais magro, Clinton, que se recupera de uma cirurgia cardíaca, acusou o presidente George W. Bush e seu Partido Republicano de tentar assustar os eleitores e afastá-los das urnas no dia 2 de novembro.
Kerry disse que Bush agiu de forma "errada e cruel" no Iraque e cometeu "um dos maiores equívocos" de seu governo, ao não garantir a segurança de várias toneladas de explosivos naquele país. A uma semana da acirrada eleição presidencial, a Organização das Nações Unidas (ONU) confirmou uma notícia do jornal The New York Times, que apontava o desaparecimento de 380 toneladas de explosivos de uma instalação militar iraquiana, durante os saques após a invasão norte-americana, em março de 2003.
Em sua primeira aparição na campanha desde a cirurgia de ponte de safena, há sete semanas, Clinton foi ovacionado num comício em Filadélfia. O ex-presidente, um dos políticos democratas mais populares do país, está tentando injetar ânimo à campanha e Kerry e incentivar os eleitores a votar, especialmente os negros, que não se entusiasma com o ar sóbrio do candidato.
Clinton citou as "diferentes filosofias" e "as conseqüências muito diferentes" dos dois candidatos, e lembrou do período de pujança econômica, "quando o último camarada foi presidente - eu". Mas Clinton foi brando sobre o Iraque, dizendo que Kerry "conseguiria mais ajuda e melhor gerenciamento", e daria mais ênfase na perseguição aos militantes da rede Al Qaeda.
O também ex-presidente democrata Jimmy Carter afirmou, numa entrevista ao jornal britânico The Guardian, que Bush se aproveitou dos atentados de 11 de setembro para obter benefícios políticos, conseguindo ser visto por muitos norte-americanos como um herói. "Ele jogou com essa carta repetidamente, e em alguns graus, de forma relativamente bem sucedida. Acredito que aquele sucesso se dissipou", afirmou. "Não sei se está se dissipando com suficiente rapidez para afetar as eleições." Carter também acusou Bush de negligenciar a não-proliferação nuclear, prática conduzida por seus predecessores.
Apoio da imprensa
Pela primeira vez em 80 anos de existência, a revista americana `New Yorker¿ decidiu apoiar um candidato a presidente, e pediu ontem que seus leitores votam em Kerry.
De acordo com o Editor & Publisher , revista sobre a imprensa dos Estados Unidos, até ontem Kerry havia recebido o apoio de 128 jornais do país, enquanto Bush recebeu de 105 jornais. Em circulação diárias desses jornais também há diferença. Os que apoiam Kerry somam 16,898 milhões de exemplares, e os que apoiam Bush somam 10,904 milhões.
Segundo a New Yorker em seu editorial, Kerry "é claramente a melhor opção". Também criticou a administração de Bush .em quase todos os aspectos, desde saúde e meio-ambiente à guerra no Iraque. Apesar de ter tomado uma decisão sem precedentes, a revista afirmou que não estava sacrificando sua independência partidária.