Título: Chávez em campanha, para reforçar base política
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Fonte: Gazeta Mercantil, 26/10/2004, Internacional, p. A-10
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, deverá conquistar cargos estratégicos nas eleições de 31 de outubro, quando serão preenchidos 609 postos, entre governadores, prefeitos e parlamentares de 23 Estados, nas eleições regionais de domingo. Já a oposição oscila entre denunciar irregularidades e desistir de concorrer. O especialista Luis Vicente León, do instituto de pesquisas privado Datanálisis, afirmou que Chávez reforçou seus candidatos com a vitória com 60% dos votos no plebiscito que determinou sua continuidade no cargo. "É de esperar que o governo tenha um aumento em sua participação no nível regional", disse ele.
Em seus discursos, Chávez tem dito que "vai arrasar" nas eleições, com uma "maré vermelha" de votos, referindo-se à cor de seu movimento político. O eleitorado venezuelano é de mais de 14 milhões de pessoas, incluindo estrangeiros que vivam há mais de dez anos no país. As campanhas estão sendo pacíficas, mas há denúncias de irregularidades. Vários candidatos da oposição desistiram de concorrer por questionar o processo.
Alguns especialistas alertaram que o aumento da concentração de poder será tão prejudicial a Chávez como à oposição. "O chavismo verá que não há nada pior que um mapa vermelho na Venezuela, e que lhe convinha enfrentar uma oposição como a dos últimos anos", disse o analista político Fausto Masó. Os partidários de Chávez, que está no poder há quase seis anos, querem tirar pelo menos cinco governos estaduais das mãos do presidente. "No dia 31 a oposição pagará um preço alto por sua incoerência e o chavismo sofrerá as consequências de uma vitória exagerada", afirmou Masó.
Como estará cercado de governadores e prefeitos chavistas, dizem os analistas, Chávez não terá mais desculpas para adiar a reconstrução do país, cuja economia se reativou e deve crescer 11,3% este mês por causa das entradas do petróleo. A Venezuela é o quinto maior exportador de petróleo do mundo.
Para León, do Datanálisis, é "muito importante" para o chavismo acrescentar o controle regional à dominância de que já goza no poder judicial, eleitoral e legislativo. Mas, segundo ele, isso traz um risco: "elimina seus inimigos. Sem um bode expiatório, vai ter de criar um, porque no fim ele acaba sendo o culpado de tudo". A eleição também enfrenta a ameaça da abstenção, que pode passar de 50%. Até a Igreja Católica, tradicional adversária do governo, uniu-se a ele para pedir que os eleitores compareçam ás urnas.