Título: Ainda há muito a ser feito, diz Pedro Ziller
Autor: Thaís Costa
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/10/2004, Telecomunicações & Informática, p. A-13

O presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Pedro Ziller, criou um minuto de constrangimento, ontem, durante reunião da Comissão de Ciência e Tecnologia do Congresso realizada no ambiente do FutureCom, em Florianópolis, ao mostrar um mapa do Brasil no qual a maior parte do território não tem telefones. Numa escala de 0 a 50% de teledensidade, a grande maioria das áreas está incluída na faixa de 0 a 12% (doze telefones para cada grupo de cem pessoas), enquanto o índice mais elevado, de 50%, aparece pouquíssimo até mesmo nas regiões mais ricas do País, como o Sul e o Sudeste.

Depois de provocar surpresa nos presentes, entre executivos de operadoras, parlamentares e imprensa, Ziller esclareceu que sua intenção era elogiar o processo de privatização e, ao mesmo tempo, lembrar que "ainda há muito a ser feito". Nesse contexto, o telefone popular AICE (Acesso Individual de Classe Especial) é uma das ferramentas escolhidas pelo governo para combater a carência de telefones.

Em resposta, o presidente do conselho de administração da Telemar, Otávio Marques de Azevedo, referiu-se ao mapa da fome e da baixa renda, os verdadeiros responsáveis pela falta de telefones, e o presidente da CTBC, Luiz Garcia, lembrou que existem dez milhões de linhas fixas instaladas mas sem serviço, das quais 3 milhões tiveram de ser desligadas por inadimplência. "É necessário que haja mais renda para haver universalização dos telefones", afirmou Garcia.

O deputado petista baiano Walter Pinheiro pediu a palavra e foi contundente, elencando uma série de acusações ao poder executivo. "Nossa legislação está atrasada, somos os únicos a separar radiodifusão de telecomunicações; o conceito do setor está errado e dá margem ao ministro Gilberto Gil se arvorar o direito de regulamentar conteúdo; falta interação política; este setor deveria estar na cesta básica, há risco de tornar o modelo inócuo". Por fim, num ataque ao seu próprio partido, Pinheiro disse "que todo governo é igual, só quer arrecadar".

Por seu lado, e para garantir a universalização, o governo promoveu nova licitação do Serviço Móvel Pessoal (SMP), estimulou o compartilhamento, tem servido de mediador entre conflitos, entre os quais o do co-faturamento, desagregação, detraf, tráfego de internet e cadastro, segundo Ziller.

Fernando Xavier Ferreira, presidente do grupo Telefônica do Brasil, alertou para o fato de o modelo de privatização ser vitorioso mas, por não ser estático, demandar novas providências, para não permitir a criação de novo gap. "A tecnologia impõe novas regras", afirmou, e deu o exemplo da AT&T, uma antiga gigante que agora é objeto de pulverização.