Título: Lessa reage a críticas contra o BNDES
Autor: Mônica Magnavita
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/10/2004, Nacional, p. A-6

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Lessa, voltou ontem à sede do banco, de cadeira de rodas e com a perna imobilizada por uma contusão no joelho esquerdo, disposto a revidar as críticas feitas à sua administração. Em discurso emocionado, criticou três ex-presidentes do banco, sem citar nomes (Pérsio Arida, Edmar Bacha e André Lara Rezende), economistas e segmentos do governo que acusaram o BNDES de ineficiente e burocrático. "Querem desmantelar o BNDES e sua atuação como banco de desenvolvimento", disse, durante cerimônia pelos 50 anos da morte de Getúlio Vargas, nos jardins do BNDES, no fim da tarde, referindo-se a diversos artigos publicados recentemente contra a atual administração do banco. Pela manhã, o seminário reuniu na sede da instituição a economista Maria da Conceição Tavares, o deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) e o cientista político Emir Sader.

Naquele caso específico, Lessa fazia referência a artigo de Pérsio Arida, no qual o economista defendia a transferência de gestão dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para bancos comerciais. Hoje os recursos do FAT compõem o orçamento do BNDES. "Isso significa dar aos bancos um poder negocial que o BNDES não utiliza quando financia o sonho do povo brasileiro." Os recursos do FAT são remunerados a uma taxa inferior à Selic, de 16,75%. Em contrapartida, o banco também empresta a uma taxa menor, a TJLP. Com a mudança, o setor financeiro privado teria acesso a recursos remunerados a um custo inferior ao dos juros cobrados na concessão de crédito.

Segundo Lessa, a história do sistema bancário no Brasil mostra, claramente, a prioridade dada às operações de tesouraria em detrimento da concessão de crédito. Esse comportamento, de acordo com ele, se reflete nos números do BNDES. As operações de crédito feitas diretamente pelo banco aumentaram este ano, mas as indiretas, feitas pelos agentes financeiros não tiveram o mesmo comportamento.

"Estou extremamente preocupado com o que parece ser um discurso orquestrado para atribuir ao BNDES culpa de burocracia e de lentidão", disse, referindo-se a outro artigo que acusava o banco de conceder crédito subsidiado. "Desafio frontalmente quem ousa dizer que o BNDES é um espaço que convive com burocracia e ineficiência. São os mesmos que defendem a lei de Gérson, que quer tirar vantagem."

Ele lembrou que o banco saiu de um orçamento realizado de R$ 33 bilhões em 2003, com mil funcionários, para um volume de R$ 48 bilhões em 2004, que vai ser cumprido, com o mesmo número de funcionários. "Onde está a inefi-ciência?", questiona. Em 2005, a previsão é de superar os R$ 60 bilhões, o que dará ao BNDES mais fôlego do que o Banco Mundial.

A economista Maria da Conceição Tavares, conhecida pelas críticas ao modelo econômico neo-liberal, defendeu, durante o seminário, a política ortodoxa do governo Lula. "Não existe macroeconomia de esquerda. O governo Lula não tinha outra opção nessa área a não ser a do conservadorismo. Ele retomou a dualidade entre Banco Central e BNDES. O Banco Central tem quer conservador e o BNDES um banco desenvolvimento. Sempre foi assim, menos no governo de Fernando Henrique", disse. Aliás, o ex-presidente também foi criticado por Lessa por ter decretado o fim da Era Vargas. "Quem demole eras é para mim um vândalo. Ninguém jamais acabará com a era Vargas. Isto é um insulto e um gesto de vaidade".