Título: Custo menor com transferência de curto prazo
Autor: Tânia Nogueira Alvares
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/10/2004, Carreiras, p. A-15

Tendência é substituir expatriação durante dois a cinco anos por projetos a serem executados em seis a doze meses. O corte de custos na expatriação de executivos e a contratação de estrangeiros como locais e não como expatriados - isto é, sem os benefícios de seus países de origem - são os principais desafios das empresas que prestam serviços de mobilidade profissional internacional, afirma Andréa Massoud, sócia da Living in Brazil, do Grupo Living Internationally.

Segundo estudo realizado pela Worldwide ERC (Conselho Mundial de Realocação de Profissionais) durante o evento Global Workforce Summit, cerca de 90% das empresas participantes revelaram que pretendem aumentar a prática de transferências de curto prazo, de seis a doze meses. Em alguns casos, como o de transferência de líderes de projetos, esse período é considerado suficiente para implementar os programas fora do país de origem e treinar a mão-de-obra local, o que eliminaria alguns custos, como os referentes à burocracia de imigração e da transferência de toda a família dos executivos.

O levantamento revelou que 79% acreditam na contratação de estrangeiros como locais - sem pacotes de expatriação - e apenas 11% prevêem expatriações convencionais, por um período de dois a cinco anos. A tendência de aumento na mobilidade de executivos via contratos de curto prazo e movimentação intra-regional é verificada desde 2002. Há um significativo aumento também das contratações intra-regionais - 50% dos entrevistados acreditam em aumento da mobilidade regional.

A pesquisa não traz referência direta ao Brasil, mas a tendência também deve se registrar no País, afirma Andréa. Ela recebeu, na semana passada, a certificação GMS - Global Mobility Specialist, da entidade Employee Relocation Council, em evento realizado em Washington, e pretende iniciar um amplo trabalho de estudos de referências nessa área para o Brasil e a América Latina que deve servir de base para a criação de políticas, tendências e programas.

A consultora critica a falta de discussão de uma política de mobilidade de profissionais nas discussões que cercam os acordos comerciais, bilaterais ou multilaterais, como Mercosul, Alca - Área de Livre Comércio das Américas e União Européia. "Os debates estão sempre centrados na troca de produtos, serviços e tecnologia. Mas não são discutidas as regras de mobilidade dos executivos em um mercado globalizado", diz Andréa, que faz parte do grupo de discussão da Alca na Câmara Americana de Comércio - Amcham.

O custo de expatriação de um executivo fica ao redor de US$ 10 mil, com toda a assistência tanto na partida como na chegada ao novo país durante seis meses, afirma Andréa. O programa contempla toda a parte jurídica de imigração, vistos, documentos, além dos estudos de equalização de salários e de custo de vida, treinamento intercultural e ajuda para a instalação do executivo e da família, o que inclui da busca de moradia e de escola para os filhos até a socialização de todos com a comunidade local. "Esse apoio é importante para que a curva de produtividade do executivo não caia durante o período inicial de transferência."

Ela acrescenta que a grande maioria das empresas que decidem sobre movimentações de executivos na América Latina está instalada no Brasil. Além dos países da região, os principais destinos dos executivos brasileiros são Estados Unidos e União Européia. Com 12 anos no mercado, a Living Brazil prevê registrar movimento 30% superior ao de 2003, quando ajudou a transferir 70 executivos e suas famílias. Com escritórios no Brasil e EUA, a empresa atende atualmente cerca de 40 empresas multinacionais.

O valor da integração familiar

A falta de treinamento cultural pode derrubar a carreira de executivos transferidos para o exterior, segundo estudo realizado pela Berlitz, escola de idiomas que tem programas de treinamento sobre diferenças culturais (cross cultural). Um percentual elevado, de 37% das operações de expatriação fracassaram segundo a pesquisa. Entre as razões, a falta de um treinamento de diversidade cultural (70%), com a conseqüente dificuldade de adaptação familiar.

A antropóloga Lucy Linhares, coordenadora da área de treinamento para crianças expatriadas do Berlitz, ressalta a importância desse tipo de preparo para reduzir o stress do executivo. E o treinamento não seria só para ele, mas também para seus familiares. "O sucesso do executivo expatriado depende da adaptação de sua família. Se ela não estiver bem, o executivo não consegue trabalhar adequadamente."

Lucy há sete anos trabalha com a preparação de jovens de oito a 15 anos para facilitar a adaptação às mudanças que acontecem com a expatriação. Por meio de jogos, a antropóloga, especializada em diversidade cultural, trabalha conceitos importantes para a vivência em outros países. "Não existe país certo ou errado, apenas diferente." O curso custa R$ 3.900 por criança e é uma das ferramentas do programa da Berlitz de treinamento de negócios global.

Para preparar os executivos e suas famílias para lidar de forma bem sucedida com pessoas de culturas diferentes e para evitar choques culturais e erros nos relacionamentos interpessoais, o programa inclui práticas sociais, etiqueta nos negócios, estilos de negociação e comunicação, administração eficaz, rotinas da vida diária, e outros tópicos gerais.